O povo Shanenawá localizado na região do rio Envira

A Aldeia Paredão, formada pelo povo Shanenawá, está localizada na região do rio Envira, próximo a cidade Feijó no Estado do Acre. Anualmente a aldeia realiza, na última semana de julho, festival cultural em agradecimento a colheita dos vegetais cultivados pelas diversas aldeias situadas nesta região amazônica. “Nós falamos como foi a produção do ano passado e oferecemos rezas aos deuses pedindo uma boa produção para o próximo ano”, explica o Shanenawá.

As 15 aldeias da região, de etnias variadas, são convidadas para a troca de experiência. No festival dos legumes, cada povo leva o que produz e ocorre o intercâmbio de métodos utilizados. O festival é aberto a visitantes de fora do Acre. Também haverá aplicação das medicinas da floresta e acampamento, em outras atividades para quem se interessar!

Veja o convite de Maná no vídeo!

Caso desejem participar o evento participando do grupo organizado pelo Povo da Floresta basta encaminhar e-mail para contato@povodafloresta.com.br

Os povos indígenas são os primeiros habitantes conhecidos da Amazônia

Os povos indígenas são os primeiros habitantes conhecidos da Amazônia. Eles detêm o conhecimento ancestral da floresta e toda uma tecnologia de interatividade com o meio ambiente sem destruí-lo. Vivem hoje na Floresta Amazônica, mais de 210 mil índios, 405 áreas que representam 20,5% do território amazônico e 98,5% de todas as terras indígenas do Brasil.

Conheça as atividades desenvolvidas em conjunto com hunikuins e shanenawás que vivem no Acre e a proposta de cocriação dessa grande aventura que é experimentar um pouco do cotidiano de sabedoria ancestral! Por meio dela você pode experimentar um profundo mergulho no coração da Amazônia, um novo caminho para o autoconhecimento e a descoberta das medicinas da floresta.

Para saber mais sobre essa programação e as expedições do Povo da Floresta entre no site ou nos contate por e-mail contato@povodafloresta.com.br sobre itinerários, passeios, preços e datas de viagens

Haux! Haux!

Vida e alimentação numa comunidade ribeirinha da Amazônia

Relato de Pedro Benatti Alvim, do Povo da Floresta.

Há tempos eu tinha o sonho de visitar o Acre e conhecer seus povos indígenas. Transformado por uma jornada espiritual interna na cidade, senti que precisava externalizar essa viagem, indo às raízes daquele conhecimento que tanto estudava. Em São Paulo, fui surpreendido por um convite de Ana e Anazildo (Nazinho) Siqueira Shawãdawa para visitar sua casa no Croa. Sinto que vivi os frutos do que gerações de índios, africanos, sertanejos e tantos povos ancestrais são capazes de oferecer de maneira tão única nos rios dessa terra brasileira. Conto aqui um pouco sobre a vida e alimentação de uma comunidade ribeirinha da Amazônia brasileira

O Croa é um igarapé ligado ao rio Juruá a mais ou menos 35 quilômetros da cidade de Cruzeiro do Sul. A comunidade ribeirinha que vive em suas ricas margens estabeleceu-se lá há cerca de 30 anos. Atraídos primeiramente pela extração de látex na região amazônica, hoje os ex-seringueiros, seus filhos, filhas, primos, netos etc. sustentam-se de forma criativa e variada dos recursos que a natureza oferece. Pesca, extração de frutíferas, carpintaria, artesanato e, sobretudo, o turismo comunitário são algumas das atividades que seus moradores empreendem ali mesmo, prezando e preservando a riqueza local. O compadrio e a camaradagem são cotidianos no rio Croa, que fecha em paz seus laços de aliança e se abre para receber pessoas de todo o mundo.

Como é a vida e a alimentação em um lugarejo na Amazônia brasileira

Cheguei em Cruzeiro do Sul às 23h30 do dia 29/12/2017 e logo no desembarque encontrei Nazinho e o taxista que ele chamou para nos levar até a ponte da BR-364 sobre o rio Crôa. No caminho passamos na casa da mãe de Ana dentro da cidade e seguimos pela estrada. Na ocasião não conheci Dona Vera, mas ao passar das semanas compreendi que ela tem uma localização estratégica fundamental na família. Por morar na cidade, seu acesso às redes de telefone e internet permite que seus filhos e genros tenham um lugar onde podem resolver contatos com calma, comerem e descansarem. Ela mantém uma venda ao lado de sua residência e tem muita disposição para ajudar na postagem de mercadorias e transações bancárias, apesar das dores que sente na perna, uma condição de saúde que carrega há anos.

Chegamos à ponte com minha bagagem mais ou menos 0:30 e paguei R$150 ao taxista. Ali descemos por uma breve passagem que levava ao pequeno cais onde se estacionam os barcos. Esse ponto também é estratégico por possuir uma pequena mercearia e a casa de Piôla, seu dono. Além de alguns alimentos e outros objetos à venda (isqueiro, velas, hélices de motor de barco etc.), a casa de Piôla também serve como garagem para as motocicletas dos moradores do Crôa. Infelizmente isso não garante segurança, pois mais de uma vez a moto de Nazinho foi encontrada ali sem gasolina ou com peças quebradas. De qualquer maneira, é uma camaradagem comum entre os moradores da região e ajuda muito em termos de transporte. Há outros moradores que embarcam suas motos para atravessar o rio sempre que a usam e isso envolve um custo maior.

A canôa de Ana e Nazinho, a Flor das Águas

Entramos na canoa de Ana e Nazinho, a Flor das Águas, navegamos sob a luz da lanterna e da lua por aproximadamente 15 minutos até chegarmos à residência do casal de barqueiros. Apenas durante o dia pude ter uma noção do quão preservado estava o igarapé: uma abundante mata adjacente e pouquíssima poluição, encontrando apenas alguns raros pacotes de salgadinho vazio ou latas de cerveja nos pontos mais frequentados.

Entre os animais que vi ao longo do rio, posso citar: pássaros (japó amarelo, japó vermelho, tucanos, bem-te-vi, galinha-d’água e outros), tartarugas, inúmeros peixes que ocasionalmente pulavam da agua para se alimentar, pequenas cobras, mucura (um tipo de gambá), famílias de macacos e teias gigantes de aranha.

Ao chegar na casa, fiquei muito feliz com sua simplicidade e com a boa recepção. Assim que subimos os três degraus de madeira na frente da casa, entramos na cozinha e tomamos um açaí da região. Forte e sem açúcar, o suco dessa fruta nativa é muito apreciada junto com o “vinho” de outras frutas similares, como o buriti, patuá, abacaba e cupuaçu. Desses, apenas o cupuaçu é normalmente servido com açúcar por seu gosto azedo.

Conversamos um pouco sobre os planos dos próximos dias, pois seria a véspera de Ano Novo, e das necessidades de gastos de transporte para fazermos a viagem. Iríamos passar a virada de ano na casa da filha do casal, Camila, em Rodrigues Alves, com seu marido, filha e outros parentes. Para tanto, deveríamos levar alguns alimentos para colaborar com a ceia, então fomos para a cidade no dia seguinte provisionar algumas coisas.

Alimentação

Os alimentos cotidianos da população ribeirinha se estendem em muitas medidas para os índios shawandawa, como é comum entre os povos indígenas do Acre. Destacam-se a farinha de mandioca, o arroz, o feijão carioca, o macarrão (presente quase todos os dias), ovos, todos os tipos de carne com predominância de peixes e aves, inclusive de caça, alho, cebola, pimenta-de-cheiro e alguns temperos da horta (cebolinha, manjericão).

Banana-prata, banana-da-terra e goiaba branca são abundantes por estarem plantados no terreno e nas vizinhanças, além de alguns tipos de limão e palmeiras de região. Grande parte dos dendês e buritis que caem dessas palmeiras são aproveitados pelos animais quando as pessoas não os colhem. Apesar da macaxeira (mandioca, aipim) também estar presente na forma de raiz, era muito mais comum encontrarmos sua farinha pela facilidade de armazenamento. Um detalhe curioso é que o povo de Cruzeiro do Sul se orgulha muito de sua farinha bem seca, grossa e saborosa. A Ana costumava dizer: “essa farinha é muito melhor do que a de Rio Branco. Tem lugar no Brasil que o pessoal até pede pra gente mandar porque não encontra! E na hora de tomar um caldo faz uma falta!”

Em comunidades como o Crôa, próximas aos centros urbanos, é comum trazer legumes e verduras mais difíceis de se encontrar na região, como alface, tomate, pepino, cenoura e beterraba. Pelo menos quatro ou cinco dias da semana podíamos contar com uma bela salada em alguma das refeições. De fato, não há o costume local de se ter hortas fartas em legumes principalmente por conta das cheias sazonais que destroem as plantas domésticas.

Todo dia há três refeições principais e, ocasionalmente, uma merenda à tarde. Durante o feitio de ayahuasca, há o trabalho de cozinhar para um contingente de 15-20 pessoas de maneira regular. Para tanto, a cozinha ficava sob a tutela das mulheres enquanto os homens se ocupavam com a ayahuasca. Normalmente todos acordavam naturalmente com o nascer do sol entre 6h e 7h, e até as 8h havia pelo menos um café coado e um chá nas garrafas térmicas. Até as 9h era servido o café da manhã, que variava entre pãos caseiros, banana da terra cozida, tapioca, manteiga, mingau de aveia com leite, vitaminas e, ocasionalmente, ovos fritos. Pela abundância de árvores frutíferas no terreno, especialmente goiabeiras, bananeiras e ingazeiras, todos eram livres para “buscar” o próprio alimento a qualquer momento.

A carne é muito apreciada na região, especialmente se os animais são caçados ou criados na região. Galinhas, patos e porcos são comuns nos quintais das casas e se alimentam tanto de rações, quanto de grãos, frutas e restos de alimentos. As fazendas de gado bovino não estão próximas da comunidade do Crôa, mas seu alimento também é apreciado. Nessa viagem, o boi esteve muito presente enquanto animal de trabalho para trazer a lenha cortada do terreno. A carne de caça tem um lugar especial devido à tradição indígena e muitos já viveram dessa atividade ou possuem algum parente próximo que o faça. Carne de veado, queixada (porco do mato) e o pássaro nambu são as mais comuns, mas a variedade de bichos nessa categoria é grande, indo da cotia ao jacaré.

A pesca também é costume entre os ribeirinhos e indígenas. Sempre que navegávamos pelo rio, era possível ver redes de pesca estendidas em seu curso – as mangas. Esse método consiste em deixar uma rede de 20 a 50 metros atravessando o rio durante algumas horas (às vezes da noite pro dia ou do dia pra noite). Dependendo da estação e da sorte, a espera pode render bons quilogramas de peixe. Outro método é a “tarrafa”, onde a rede é jogada na água e afunda, capturando os peixes no caminho. A pesca com vara também compõe o cenário, geralmente feito em canoas menores a remo para evitar que o motor afaste os animais aquáticos. A variedade de peixes é tanta que não sei informar quantos tipos moram no rio e vão às mesas. Os açudes (criadouros de peixes) são mais comuns próximos à estrada, onde o acesso aos rios e igarapés é limitado.

 

Turismo de base comunitária cocriado com índios

O projeto Povo da Floresta realiza um trabalho de cocriação com as comunidades locais do Acre para fortalecer uma rede de pessoas e a consciência de atuação que deve perpassar e se traduzir em benefícios do próprio espaço físico e dos índios. Juntos com as comunidades indígenas com as quais trabalhamos na Amazônia brasileira temos uma oportunidade para aprender a história, modos de vida e características de culturas únicas com seu ambiente. Além de conhecer o próprio ambiente e sua harmonia natural, integrada a esses povos de maneira ancestral. Esse modelo não só derruba as fronteiras que a sociedade ocidental está acostumada a criar entre natureza e cultura: ele recria e fortalece seu elo.

O turismo de base comunitária que realizamos, em si, envolve dois conjuntos de atores principais: a gente que nasceu e viveu no local por gerações e, claro, os “estrangeiros”, nacionais e internacionais, convidados a adentrar esse mundo de relações. No meio desses dois conjuntos estão os mediadores formado por uma mescla de cada lado, indígenas e não-indígenas. São agentes dispostos a trabalhar na integração de diferentes pontos de vista de mundo, traduzindo e resolvendo desafios de tornarem confortáveis a experiência do contato. Esse esforço envolvido permite que preconceitos e vícios de interação sejam superados. A depredação do patrimônio natural e cultural (a floresta e seu povo), o enquadramento em papéis pré-estabelecidos e estereótipos e a exploração das etnias nativas, sem levar em conta seus desafios e necessidades materiais concretos, podem ser evitados por meio do estudo prévio e trabalho coletivo durante esse tipo de empreendimento.

Consequentemente, por meio da nossa atuação dentro da lógica do turismo de base comunitária temos:

  • Incentivos à formação de associações e cooperativas ligadas com as particularidades locais;
  • Prosperidade às comunidades envolvidas, tanto em termos materiais quanto simbólicos;
  • Adequação e criação de estruturas para abrigar e conduzir, sem prejuízos, as pessoas pelo ambiente e na convivência com as culturas;
  • Enriquecimento educacional para todos os envolvidos na experiência, com o surgimento de ideias que podem ser aperfeiçoadas com o tempo;
  • Maiores oportunidades de relações honestas e amigáveis entre cada conjunto de agentes;
  • Engrandecer a união e harmonia espiritual entre a natureza e o ser humano, tão importante nos povos indígenas. A espiritualidade da floresta é mundialmente conhecida por curar e fortalecer as pessoas que abrem seus corações a experiência da entrega, independentemente de suas religiões originais.Da mesma forma que eu tivemos a honra de vivenciar e aprender um pouco da cultura, da culinária, da medicina, dos trabalhos espirituais, trabalhos de cura, e outros costumes, propomos como o nosso projeto que outras pessoas vivenciem isso também.

Venha vivenciar esta cultura e realizar trabalhos coletivos e colaborativos para o fortalecimento e sustentabilidade de um povo que vivem em um país com nome de uma árvore, Brasil!