O rapé, sua dieta e o autoconhecimento

Conheça o rapé: o ancestral pó amazônico e suas indicações

Relato de Pedro Benatti Alvim, do Povo da Floresta.

Entre os povos indígenas da Amazônia é costume fazer alterações na alimentação quando determinadas pessoas são iniciadas espiritualmente em determinados estudos. As chamadas dietas são restrições alimentares que variam de acordo com o propósito. Por exemplo, a dieta de um caçador que irá acampar durante vários dias na mata para trazer carne para a comunidade é diferente da dieta de um pajé que se aprofunda no estudo da ayahuasca ou do rapé.

Folhas de tabaco secando ao sol pra fazer rapé

Muitas pessoas ficam curiosas e visitam esses povos para ampliar o estudo da pajelança e curandeirismo amazônicos. Os shawãdawas, hunikuin, katukina, yawanawa e outros do Acre normalmente introduzem a dieta do rapé para não índios interessados no tema. Essa dieta é vista como um primeiro passo para se conhecer com mais respeito as medicinas da floresta.

Durante 21 dias, a pessoa iniciada elimina de sua rotina o sal, o açúcar, todos os tipos de carne e atividade sexual. Frutas e derivados de animais são permitidos, e é um preceito que pode variar entre cada etnia. A comida preparada para as pessoas que estão nessa dieta são preparadas especialmente para elas, e não podem ser divididas com outros que estão se alimentando normalmente para que o propósito da energia se preserve.

O rapé, medicina feita a partir de tabaco moído e cinza de árvores, deve ser auto-aplicado durante os dias. Não se restringem o número de aplicações, mas se sugere uma disciplina de pelo menos dois ou três sopros por dia: uma ao acordar, em jejum; uma ao anoitecer e um antes de dormir. A primeira e a última aplicação do dia são fundamentais nesse estudo. Por ser um estudo pessoal que irá familiarizar a energia do estudante com a medicina da floresta, a pessoa não pode receber sopro de outras pessoas durante a dieta.

A ideia de se eliminar certas atividades e alimentos durante o período é de purificar o corpo e limpar o canal espiritual. Esse jejum voluntário retira certos vícios alimentares comuns e coloca a pessoa em estado mais intenso de auto-observação. Assim ela terá mais clareza dos ensinamentos da floresta ao consagrar o rapé e outras medicinas.

Os pajés mais velhos também conhecem outras dietas para afastar doenças e conhecer outras medicinas. No entanto, são estudos mais profundos que devem ser passados pessoalmente àqueles que estão trilhando o caminho, preservando a tradição e os mistérios da floresta.

Sopro do rapé feito em ritual shanenawá. Imagem meramente ilustrativa

Comentários

Comentários

37 respostas
  1. Sayure D. Santos
    Sayure D. Santos says:

    Olá, adorei o seu artigo.. Muito bom o conteúdo, já até me registrei pra continuar recebendo seus conteúdos! Aproveita e também dá uma olhadinha no meu, pois tenho informações complementares por lá. Acredito que irá gostar muito! Sucesso.

    Responder

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