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O pajé, que índio ele é?

“Quando o pajé canta, ele conecta a comunidade com os espíritos e seres da floresta. Isso traz harmonia e força. Promove equilíbrio e saúde. ”

O pajé, é uma figura de extrema importância dentro das tribos indígenas do Amazonas. Apesar de uma boa parte da cultura indígena ter sucumbido à chegada do “colonizador”, a presença deste personagem quase que principal de uma aldeia, ainda permanece, e com toda a sua sabedoria.

O declínio do saber em alguns grupos indígenas amazônicos é resgatado pelos núcleos espiritualistas onde a ayahuasca, o rapé, a sananga, o kambô e outras medicinas são usados. E dentro dessas medicinas citadas, sem dúvida, a ayahuasca (bebida sagrada que tem vários nomes diferentes a depender da etnia indígena) é a mais misteriosa das alquimias utilizada pelo xamã.

Dentro da aldeia, o xamã é um personagem social que possui por conta da regionalidade da floresta amazônica, variações no nome, na participação social na aldeia, podendo chegar até a quase ser o líder do grupo, mas isso não é o comum. Na natureza da hierarquia de uma aldeia, ele é o líder espiritual e não tem como função trabalhar na lavoura ou no roçado. Ele é o detentor de um conhecimento astral, também transmitido via oral ou expresso por imagens. Essa figura emblemática reúne em si as funções de médico, sacerdote, conselheiro psicológico e auxilia como juiz o cacique. Quando o cacique precisa se ausentar, é pajé que assume suas funções de líder máximo de um povo. Seu comportamento é transcultural, e tem experiências universais, que vão além de sua cultura, isso quando em estado alterado de consciência.

“A ciência espiritual e médica dos pajés é um conhecimento construído e acumulado durante 4 mil anos. Começou 2 mil anos antes de Jesus nascer. Merece respeito. Merece o direito de continuar existindo. Só alguém muito demoníaco pode afirmar que a sabedoria dos pajés é obra do Diabo e ou querer não dar valor a ela.”

Um índio exerce a função do pajé ou xamã não pela imposição, mas como quase tudo que transcorre entre o povo indígena da Amazônia, esta função é por reconhecimento de seus iguais. Só seu povo pode dar a condição a um pajé de ter essa posição social. Por fim, o povo da aldeia, passa o considera-lo desta forma. É uma condição de pura vocação. Bem diferente da nossa sociedade, onde um médico torna-se médico por sua vontade de exercer tal função, o xamã não obtém o poder de escolha, o povo naturalmente assim o considera. E pronto. Ele também tem um grande papel de manter a aldeia unida em busca de sua identidade psicossocial viva.

O conhecimento que o xamã tem de medicina da floresta, compõe-se do profundo conhecimento que tem da tribo, dos aspectos da vida social do grupo e do ecossistema onde vive. Para ele, a saúde orgânica é um aspecto de algo muito mais vasto. O ato de curar, é uma guerra vitoriosa, na concepção xamãnica.

Nem todas as aldeias possuem pajés. É comum quando um índio adoece, no caso da não existência imediata de um pajé, convoca-se o pajé de uma aldeia vizinha – que vai de bom coração, com suas rezas e ervas, para a cura.

Para algumas etnias, como os tukanos, que vivem no Estado do Amazonas, na região fronteiriça do Brasil com a Colômbia, chamam este líder espiritual de “cumu” que representa, “o ponto máximo espiritual dos sábios”. Assim como em outras aldeias, “o cumu não é um chefe, mas sim um sacerdote”. O Cumu é um líder espiritual que conhece profundamente a sua história e faz com que essa história se traduza em força e fé entre os seus. Os “cumus” para os tukanos, têm uma posição transferível de pai para filho ou filha, dado que é natural ter mulheres “cumus”, e, neste caso, em geral, se especializam em causas femininas, como a arte de parteira, doenças de mulheres e crianças. Ela, pode também liderar um rito de cura ou pajelança, caso não tenha-se a presença de um “cumu” homem.

“O pajé é um guerreiro espiritual. Ele enfrenta espíritos malignos enviados pelos inimigos. Com cantos e flautas, ele chama os espíritos protetores do seu povo para a batalha espiritual. Se falhar, crianças, mulheres e homens da sua tribo podem adoecer e morrer.”

Em minha vivência no Acre, conheci na região do Rio Envira, sábios pajés espirituais e da medicina. Na ocasião, eles contaram histórias lindas e incríveis. Em nossa expedição ao Jordão, encontraremos antigos líderes espirituais hunikuins, talvez os mais tradicionais pajés desta etnia, onde será possível, vivenciar toda espiritualidade e cura dos xamãs. Na aldeia Boa Vista, temos o pajé Inkamuru, reconhecido por seu trabalho de cura, e na aldeia Chico Curumim, contamos com o pajé Siã Hunikuin, outro grande líder espiritual, igualmente reconhecido pelo seu trabalho. Ambos pajés são pesquisadores e profundos conhecedores da medicina da floresta. Neste escrito, não posso deixar de homenagear o pajé “Una Isi Kayawa”, também do Jordão, autor do belíssimo livro disponível nas livrarias “Uma Isis Kayawa – Livro da Cura do Povo Hunikui do Rio Jordão”, que deixou uma herança para toda humanidade.


Assista o vídeo:



Pajé Inka Muru da Aldeia Boa Vista – alto Jordão


Pajé Siã Hunikuin da Aldeia Chico Curumim – alto Jordão

“Quando o pajé dorme, os espíritos da floresta falam com ele. Avisam sobre perigos e informam coisas que precisam ser feitas para a saúde de toda aldeia.
Ou seja, até quando dorme, o pajé trabalha.”

Batani: índia artesã hunikuin do Jordão

“Tradução: Meu nome é Batani HuniKuin, tenho 24 anos, sou um ìndia hunikuin, moro na aldeia Boa Vista aqui no Jordão – Acre, e quero contar um pouco do trabalho com diversos artesanatos como: Tecelagem, fazendo tecidos e como eles, faço bolsas de vários tamanhos, toalhas, roupas em geral pequenas, e com vários tipos, tamanhos e desenhos. Todos os pontos que dou em meu trabalho, foram ensinados pela minha avó a muitos anos atrás. É cultural da minha família. Minha mãe também fazia, e eu quando aprendi, era muito pequena, e trabalhava com a minha mãe. Os desenhos também são da cultura hunikuin do jordão, e são muito bonitos.

Cerâmica, também vem da cultura da minha nação fazer trabalhos com cerâmica. Em geral são pequenos vasos de barro que servem para por alimentos, frutas e outros como vaso de água. Algumas mulheres “brancas’’ gostam de coloca plantas, mas aqui não precisamos disso, porque plantamos tudo no chão.

Miçanga, são aquelas pequenas pedrinhas eu juntas dão u colorido bastante bonito, e com desenhos relevantes. Mais do que isso, acredito que faço verdadeiras joias indígenas e com total exclusividade, porque uma peça, nunca sai igual a outra peça. Poucas pessoas conseguem ter porque não conhecem o trabalho das Índias artesãs daqui do Jordão. Colares, pulseiras, brincos, gravatas e outros lindos adornos, eu faço com minhas mãos e meu coração. Sempre que as faço, rezo para que as pessoas que usem, tenham muito amor no coração.

Palha, faço esteiras, redes e dormir, mochilas (com cipó), cesto e outros produtos que nós mesmo aqui na Aldeia usamos.

Madeira pequenas, ripas, cascas de árvore e galhos que estão no chão, eu aproveito para fazer alguns trabalhos de artesanatos. Não danificamos em nada a Floresta, mas tentamos trabalhar com que ela nos dá, e com todo respeito, amor e gratidão a Natureza.

Todos os trabalhos que fazemos aqui, tem como princípio, respeito e gratidão a Natureza.