Os shawãdawás

Os shawãdawas compõem um grupo originário da Terra Indígena Arara do Igarapé Humaitá, localizada no Alto Juruá, no estado brasileiro do Acre. Em 2010, segundo dados do Museu do Índio (Governo Federal do Brasil), a população era de 880 pessoas, enquanto levantamento de 2014 do Instituto Sociambiental (ISA) indica como remanescentes apenas 677 indivíduos.

Segundo o Museu do Índio (Governo Federal do Brasil), na região de Humaitá, atualmente encontram-se três comunidades e cinco aldeias da etnia, sendo elas respectivamente: Foz do Nilo, Raimundo do Vale e Novo Acordo; Santo Antônio, Paz, Bom Futuro, Matrinchã e São Luiz. No rio Val Paraíso, afluente direto do Juruá. Em decorrência do nome da sua área original, muitas vezes são chamados de arara por índios de outras etnias e não índios. Mas entre eles se autodenominam shawãdawas.

Como outros grupos indígenas do Acre, como os hunikuins e os shanenawás, os shawãdawas passaram pelas dificuldades impostas pelo período denominado de Ciclo da Borracha (1870 até 1913), passagem histórica que afetou de forma violenta e definitiva a porção acreana da Amazônia e parte da região Norte do Brasil. Nas batalhas com seringueiros e migrantes impulsionados por uma política migratória de estado, muitos desses povos originários foram explorados, aprisionados, mortos e tiveram suas vidas cerceadas pelo movimento de produção dos seringais. De acordo com dados do ISA, nos anos recentes essa etnia tem se empenhado no processo de revalorização de sua família linguística, pano. Atualmente também trabalham para fortalecer e recuperar suas tradições (com a ajuda dos mais antigos e que ainda dominam a língua).

Esse povo viveu um grande período de discriminação ao falarem sua língua materna, e por esse motivo ficaram um longo período sem transmiti-la a seus descendentes, gerando uma população infantil educada apenas em português. A consequência da interrupção do uso da língua foi o desaparecimento da terminologia de parentesco como a possível divisão social em metades, e em quatro (característica de outros grupos de língua pano). No início da década de 1990 eles começaram uma processo de resgate da língua, e passaram a trabalhar uma educação bilíngue no grupo, com o apoio Comissão Pró-Índio do Acre (CPI-Acre).

A organização social nas aldeias se dá hoje por meio das lideranças indígenas, os caciques. Hoje há três, um para cada aldeia. As aldeias remanescentes não têm mais uniformidade por família, havendo indivíduos das principais famílias nas três aldeias. Assim como a retomada da língua original, os shawãdawas trabalham por um rearranjo no parentesco do grupo com o intuito de formarem descendentes. Nesse sentido, da união de um homem de origem mesmo que longínqua desse povo com uma mulher shawanáwa resulta um descendente da etnia da mãe, um legítimo shawãdawa.

Esta etnia é, de maneira geral, monogâmica e não tem um ritual para consolidar uma união, geralmente seguindo os ritos católicos. No entanto, existem regras para que ocorra uma casamento: o homem precisa ter uma espingarda para caçar e deve plantar um roçado para sustentar a mulher. É preciso também que ele construa uma casa (enquanto a habitação não fica pronta a esposa mora na casa do pai do marido). O casamento é incentivado entre jovens casais, em uma faixa etária dos 13 ao 16 anos, o que favorece o crescimento populacional. Os papéis desempenhados seguem a forma binária (homem-mulher) que divide as tarefas por gênero.

A alimentação desse povo tem tradição na caça e agrícola, ambas funções do homem no código local, mas com a permissão de que as mulheres ajudem durante a colheita. A base da alimentação dos shawãdawas vem da mandioca, da qual também fazem a farinha. As mulheres se ocupam das atividades domésticas, cuidando da casa, dos filhos e de algumas criações, como porco e galinha. Mulheres também não participam da caça.

Os shawãdawas mais idosos são responsáveis hoje por passar as tradições desse povo às gerações. Por guardarem em si as memórias são muito respeitados. São esses guardiões que transmitem aos jovens, crianças e adultos as histórias mitológicas e os rituais, como a dança mariri (comum entre os grupos de língua pano), o sinbu (bebida sagrada ou ayahuasca) e o kampô.

Nos rituais de mariri, as pessoas mais antigas, aquelas que falam a língua fluentemente, cantam e ensinam os mais jovens. O ritual do sinbu é praticado, mas alguns índios dessa etnia não costumam mais ingerir o sinbu, mesmo tendo feito uso dele em algum momento. Em período anterior à introdução deste povo no sistema produtivo da borracha o uso do sinbu era mais recorrente, inclusive para sessões de cura, quando o pajé consumia a bebida e buscava os males no paciente para retirá-los e trazer de volta a saúde.

Segundo informações do ISA, a partir da década de 1990, alguns shawãdawas tornaram-se adeptos do Santo Daime, mas pela introdução da religião não contar com a adesão total das aldeias do grupo poucos indivíduos se consideram daimistas. Entre este povo há duas formas de usar ritualisticamente a ayahuasca: a primeira, a mais tradicional, em sessões de cura; e a segunda, por aqueles que consomem o cipó com a intenção de partilharem da doutrina do Santo Daime.

Já o ritual do kampô é utilizado para recuperar as qualidades essenciais do caçador: pontaria, visão, audição e sorte. Pegam o sapo kampô (verde e grande) e retiram dele, com um graveto, o um líquido que parece leite que fica ao longo de seu corpo. Depois, queimam dois ou três pequenos pontos circulares na pele do caçador com cigarro, ou com brasa, para introduzirem o leite sobre a queimadura. Essa aplicação gera vômitos e excreção e os índios acreditam que abrem a capacidade de ver e sentir os movimentos dentro da selva, o que facilita a caça.

 

Fontes:

Museu do Índio – http://prodoclin.museudoindio.gov.br/index.php/etnias/shawadawa/povo#HIST%C3%93RIA

PIB Socioambiental, Instituto Socioambiental (ISA)

https://pib.socioambiental.org/pt/povo/arara-shawadawa

 

Sananga, o colírio da floresta Amazônica

“Os olhos são as janelas onde tudo o que vemos e projetamos. Tudo está lá guardado, inclusive nossa história. O espírito do sananga faz a cura expulsando todos os males da alma e da matéria.” Essa é a explicação do objetivo da sananga relatada por Tuin Huã Kaxinawá, pajé da aldeia do Caucho do alto do rio Murú,

O espírito da sananga ou shanovo (espírito da floresta) tem como processo medicinal o refinamento da visão espiritual. Assim, a sananga possibilita enxergarmos a verdade que se encontra a nossa volta sem a nossa cegueira pessoal e limitante, permitindo visualizar e deslumbrar a beleza que existe à nossa volta.

É possível uma relação indireta e de auxílio da sananga em algumas doenças psicossomáticas, já que os olhos são nossas janelas para a percepção deste mundo. Enxergar o nosso inimigo com os olhos colabora em nossa luta diária. Assim, esta medicina natural auxilia na percepção do que ocorre em nossa volta, trazendo harmonia e consequente realização espiritual, emocional e física.

A tradição do uso da sananga pelos índios kaxinawás é de pingar uma ou duas gotas em cada olho antes de irem para a caça. Eles acreditam que a substância aguça a percepção facilitando os movimentos sutis da densa floresta, conseguindo assim, distinguir a sua caça. Além de ressaltar texturas visuais, profundidade, cores o que, dizem os índios, auxilia o instinto caçador em sua busca visual da presa dentro da floresta.

O colírio da sananga é obtido por meio da extração de um sumo de planta brejeira em forma de arbusto, chamada Tabernaemontana Sananho. Um dos princípios ativos encontrados é a Ibogaína. Para preparar o colírio são batidas as raízes do arbusto com água limpa e potável, que resultam na extração do princípio ativo da planta.

A Ibogaína provoca uma experiência psicoativa o que pode levar algumas pessoas a transes e/ou rápidas visões, chamadas de mirações por algumas tradições ayahuasqueiras. Após a aplicação, ocorre uma ardência que dura no máximo três minutos, dependendo do estado clínico do paciente e a frequência com que o indivíduo faz uso do colírio. A experiência da sananga é relatada como um momento muito especial. Após a ardência surge uma sensação de completude. É como se o indivíduo estivesse totalmente inserido em um momento atemporal, onde nada mais importa.

Algumas tribos das etnias nawas, utilizam-se da sananga para retirar a chamada panea. Panea é representada por uma forma de energia negativa acumulada que carregamos, normalmente associada ao suco gástrico do estômago, que levam ao acúmulo de todo o tipo de bactérias e doenças. Este acúmulo é originado pela ingestão de carne (que leva à putrefação no aparelho digestório e excretor), de medicamentos e de substâncias tóxicas dos alimentos que não são naturais como os da floresta. A panea pode destruir nossa resistência e saúde.

Espiritualmente e energeticamente, a sananga ajuda a limpar o canal ocular e contribui para a fluidez da percepção no chakra ajna (terceiro olho, ou visão interior). Ou seja, aumenta a percepção e visão espiritual e sensitiva. Em pessoas com sensibilidade mediúnica desenvolvida há a comprovação de expansão do campo áureo. A Ibogaína auxilia ainda no tratamento de dores crônicas e é conhecido como um forte estimulante afrodisíaco, além de facilitar processos meditativos e de introspecção.

Não se recomenda a prática do uso da sananga fora da floresta, local onde a aplicação é realizada de forma adequada durante um trabalho e ambiente apropriado voltado à evolução espiritual e, principalmente, com a orientação de um xamã.

Deve-se considerar que o organismo indígena é mais delicado e possui uma pureza de alimentação, ambiente e qualidade de vida não encontrada no ambiente dos não índios, sendo aconselhada a retirada da panea por meio de sananga pelo povo indígena.

Estudo científicos demonstram possível eficiência na aplicação da sananga, em especial nas doenças bacterianas existentes no globo ocular. Sua aplicação auxilia no tratamento ou prevenção de conjuntivite, terçol, irritações nos olhos, catarata, miopia, hipermetropia, astigmatismo, ambliopia, olho seco, fotofobia, glaucoma, catarata, ceratocone, dores de cabeça, catarro derivante de sinusite e renite. “Nossa visão fica mais precisa, clara e nítida após a aplicação”, afirma o pajé. Apesar de sua contribuição, a sananga não promove a cura de problema físicos existente nos olhos. Importante: é contraindicado seu uso após cirurgias oculares ou em caso de ferimentos ocorridos.


Fontes:

BRAMATTI, J.P.C. (2016) Percepção, alucinação e perspectivas: um jogo de luzes e sombras. Disponível em http://bdm.unb.br/handle/10483/10976

LOPES, B.P.C.S (2017) Estudo etnobotânico de plantas medicinais na Terra Indígena Kaxinawá de Nova Olinda, município de Feijó, Acre Disponível em http://hdl.handle.net/11449/150997>

Blog Xamanismo Universal – Disponível em http://xamanismouniversal.blogspot.com.br/2011/09/sananga-uma-nova-cura-para-os-olhos.html

Blog Alquimia das Árvores – Disponível em http://alquimiadasarvores.blogspot.com.br/

 

 

Os shananawás ou shanenawás

O nome Shanenawá, etimologicamente, é composto pelo termo shane (espécie exótica de pássaro, de cor azul cintilante com aproximadamente 30 centímtros de altura) e pelo sufixo nawá (povo). Os denominados “povo pássaro” constituem juntamente com os kampas, kulinas e kaxinawás a população indígena que habita a região do rio Envira – que corta o estado do Acre no município de Feijó, localizado a cerca de 700 quilômetros ao norte da capital Rio Branco.

Atualmente, o povo shanenawá subdivide-se em quatro comunidades localizadas no Acre: Aldeia Morada Nova (2 km próximo da cidade de Feijó); Cardoso, localizada em um igarapé de mesmo nome (a 20 km ao norte de Feijó); Nova Vida (a cerca de 10 km ao sul da cidade), e a aldeia Paredão (a mais distante de Feijó, a 30 km ou aproximadamente 45 a 60 minutos, descendo o rio Envira). Sobre sua origem os shanenawás dizem ser descendentes de um povo que no início do século habitava a região do rio Gregório.

Os shanenawás sofreram consequências das invasões que ficaram conhecidas como o período das “correrias”, iniciado em 1913 com a chegada dos nordestinos em busca da seringa. Nesse período, o governo federal brasileiro promoveu um modelo de ocupação territorial do Acre, incentivando a migração de pessoas, a maioria vinda da região Nordeste, para a Floresta Amazônica, na busca do látex das serigueiras. Para os povos originários o período se caracterizou pela falta de um lugar que lhes garantisse segurança em seu habitat tradicional. Assim, nos primeiros contatos com os não índios, as populações indígenas, eram obrigadas a trabalhar na coleta de borracha. Porém, ao término dos serviços, os índios eram expulsos da área que habitavam. As consequências disso levava essas nações  a passarem fome e adoecerem, levando grande parte dos expulsos de seu território à morte.

Nessa época, por não terem espaço garantido para sua sobrevivência, os shanenawás, passaram a reivindicar às autoridades locais e federais um território que pudesse assumir como deles, já que haviam sido retirados de sua região original. Esse espaço foi “concedido” aos shanenawás por volta de 1926, por meio de uma “doação” feita por um seringueiro da região.

O primeiro shanenawá a chegar ao novo habitat foi Inácio Brandão, conforme relatam hoje os representantes desse grupo. Segundo estimativa dos próprios indígenas, atualmente o núcleo familiar Brandão é constituído por mais ou menos 310 pessoas, entre adultos e crianças, espalhadas de modo heterogêneo pelas quatro aldeias ao longo do rio Envira. As habitações dos shanenawás são semelhantes às das outras etnias da região: as casas são do tipo palafitas, feitas de paxiúba e cobertas com folhas de coqueiro (jacir). O espaço divide-se em áreas  abertas que funcionam como sala de visitas e cozinha. As áreas fechadas são os locais reservados para dormir.

Esse povo subdivide-se em clãs: waninawa (povo da pupunha), varinawa (povo do sol), kamanawa (povo da onça), satanawa (povo da ariranha) e maninawa (povo do céu). Os filhos são membros do clã da mãe e como regra, em geral, só podem casar com indivíduos pertencentes ao mesmo clã. Mas isso, às vezes, não acontece, já que há alguns matrimônios interétnicos de índios com não-índios.  Segundo o cacique Busã, as famílias são monogâmicas, embora sejam permitido que os caciques da etnia possam ter até três esposas dentro de casa, podendo ter filhos com todas. Não é uma regra a ser seguida, mas uma possibilidade ao “chefe”. O índio que opta por ter duas ou três mulheres tem a obrigação de observar a igualdade nas relações. Isso o obriga a se deitar com todas as mulheres na mesma noite, caso mantivesse relações sexuais com alguma. Pela manhã, ele tinha que levantar cedo para caçar e sustentar a família. O cacique Busã, consciente dessa responsabilidade afirma que ter mais mulheres é sinônimo de mais famílias, mais responsabilidade. Por esse motivo ele afirma que não pretende deixar a monogamia.

Os shanenawás possuem uma organização centralizada na figura do chefe, no caso o cacique, cujo cargo é hereditário. À liderança cabe o dever de se dedicar inteiramente aos interesses da comunidade representando-a em contatos com autoridades públicas dos não-índios. O chefe tem poder de decisão, embora atualmente as decisões mais importantes sejam tomadas de forma coletiva em reuniões com outros importantes membros do povo.

A organização política do povo shanenawá considera o cacique a autoridade máxima, cabendo a ele resolver problemas internos e servir como representante do grupo em intermediações com a sociedade geral brasileira como, por exemplo, em reuniões da Organização dos Povos Indígenas do Rio Envira (Opire), em que se discutem problemas referentes à saúde, educação e comercialização de seus produtos.

O meio de vida econômico desse povo é de subsistência, centrando-se em coleta, pesca e caça. A primeira se restringe a materiais essenciais, como a paxiúba e a palha, usadas nas construções das casas. Os shanenawás igualmente coletam envira e tabocas para a confecção de cestos e artesanatos, tais como arcos e flechas, que eventualmente comercializam. A caça, por sua vez, está praticamente extinta. Já a pesca, eles exercem no formato de sua cultura. Pescam no período de águas a nível baixo do rio Envira e igarapés Diabinho e Cardoso, que desembocam próximos às comunidades.

No processo de desenvolvimento da economia da borracha, os índios foram alocados como mão-de-obra para o fornecimento de carne de caça e outros produtos da alimentação. Posteriormente foram integrados à lida do seringal e à própria extração da borracha. Além destas atividades, os shanenawás também participaram do “amansamento” dos índios “brabos” – como eram chamados os índios não contatados, que não querem ter convívio com não índios – da região do alto rio Envira.

Os modos de vida desse povo passaram por uma reestruturação: a moradia foi transferida mais para o interior da floresta, onde há seringueiras. Houve uma maior fartura de caça, mas por outro lado, deixaram de lado o acesso à grande quantidade de peixes dos rios e as duas colheitas agrícolas que faziam durante o ano. O declínio das atividades extrativistas abriu espaço para as atividades pecuárias na região, o que aumentou consideravelmente os conflitos pela posse de terra.

Os shanenawás vivem na margem do rio Envira. Antigamente moravam em cupinxauas (espécie de taba, habitação construída de palha), na qual moravam todos os membros de um clã. Hoje vivem em moradias sobre as águas, palafitas feitas de madeira serrada e cobertas com palha de envira ou de alumínio. Plantam roças próximas à aldeia com macaxeira, banana, milho e amendoim. Também plantam em escala menor batata-doce, abóbora, inhame, cará, cana-de-açúcar, mamão e melancia. Coletam manga, caju, ingá, e açaí com muita abundância, todos frutos originários da região. Compram alguns produtos em Feijó, principalmente carne, na época das cheias do rio Envira e seus Igarapés (quando não se pode pescar para garantir a reprodução dos peixes), e criam pequenos animais.

No artesanato típico deste povo, os homens fabricam arco e flecha e as mulheres fazem colares, chapéus, saias, pulseiras e cestos. Também fabricam vasos cerâmicos. A Associação Shananawá da Aldeia Morada Nova (ASAMN) facilita a venda destes produtos na cidade de Feijó.

Xamanismo, cosmologia e rituais

Os shanenawás creem nos espíritos bons e maus da floresta, chamados jusin. O principal jusin tsaka tem a forma de um animal monstro, que anda à noite, destruindo e queimando todas as coisas que encontra em seu caminho. Assim como outras etnias que utilizam a ayahuaska da Amazônia, os shanenawás também consagram os seus ritos com a bebida da floresta, que utilizam para se comunicar com os ancestrais, em busca de ter visões que ajudem na resolução de seus problemas. Em sua língua, chamam a ayahuaska de umi. Esse povo conta com a presença do pajé e contam com um vasto jardim de plantas medicinais na Aldeia Paredão. Aplicam no braço também o veneno do sapo verde phyllomedusa bicolor, o kambo, como planta medicinal e espiritual.

Curiosamente, essa etnia adota aspectos e parte da cultura católica. Praticam rituais que são mais brincadeiras, especialmente na estação seca com mariri que é uma dança, o pau-de-sebo, o tiro de arco e flecha como competição entre as seu povo.

A ayahuasca

A ayahuasca, uma bebida sagrada para diversos povos antigos da floresta, vem ganhando um destaque no mundo todo, despertando a curiosidade crescente de pessoas na busca do autoconhecimento. Seu uso é feito em consagrações que buscam a expansão da consciência individual e coletiva. Com esse propósito de elevação espiritual, os rituais que oferecem a bebida abrem-se para a união entre todos as culturas e pessoas. Nessas consagrações, os povos indígenas também oferecem suas canções, suas orações, suas cores e suas curas na forma de medicinas da floresta. A ayahuasca junta-se ao tabaco do rapé tradicional e do cachimbo, à sananga, ao kambo e a outros elementos da mata, trazendo seus guardiões – instrutores ancestrais de aspectos fundamentais do nosso mundo. Seu uso espiritual permite um direcionamento construtivo na ingestão dos princípios ativos das plantas, algo que não pode ser descuidado nem irresponsável. De fato, se tomados com sabedoria, a ayahuasca e as medicinas da floresta podem ajudar no tratamento contra o abuso de drogas e hábitos autodestrutivos.

Ayahuasca, a sacred drink for many ancient folk of the forest, has been winning importance in the whole world, awaking the rising curiosity of people in the quest of self-knowledge. It’s used in consagrations that aim for individual and collective conscience. With this propose of spiritual elevation, the rituals that offer the drink open themselves for the union between all culture and people. In these consagrations, the indigenous people also offer their chants, their prayer, their colors and their cures as forest medicines. Ayahuasca joins the traditional rapé (snuff) and pipe tobacco, sananga, kambo and other jungle elements, bringing their guardians – ancestral instructors of fundamental aspects of our world. It’s spiritual use allows a constructive directioning in the ingestion of the plants active principles, something that can’t be careless nor irresponsible. In fact, if taken wisely, ayahuasca and the forest medicines can help in the treatment against drug abuse and self-destructive habits.

Conhecida como um “chá”, trata-se de uma bebida tradicional das folhas de chacrona (Psychotria viridis) e o cipó jagube. A chacrona contém DMT (dimetiltriptamina), uma substância presente em todos os mamíferos e diversas plantas, enquanto o jagube carrega i-MAO, o inibidor da enzima MAO (Monoamina oxidase), responsável por degradar as moléculas de DMT no corpo. A ayahuasca resulta de horas de decocção das folhas e do cipó, feita com muito respeito por todos os grupos que realizam um trabalho espiritual sério.

Known as a “tea”, it’s a traditional drink from the chacrona (Psychotria viridis) leaves and the jabuge (Banisteriopsis caapi) vine. Chacrona has DMT (Dimethyltryptamine), a substance present in all mammals and many plants, while jagube carries i-MAO, the inibitor of MAO enzime (monoamine oxidase), responsible for degrading DMT molecules in the body. Ayahuasca is the result of hours of decoccing the leaves and the vine, a process done with much respect for all groups that have a serious spiritual work.

Uma vez no corpo, o DMT permite ao ser humano abrir sua visão a diferentes perspectivas de consciência. Alinhando-se coletivamente por meio de canções e conexões com os pajés, txanas (cantores e cantoras), guias e guardiões, podemos ter acesso à consciência expandida da qual fazemos parte com a natureza. Essa conexão pode ser entendida como uma forma de transcendência. A floresta abre suas cores e sua sabedoria quando, com calma e entrega, criamos clareza de nossa essência mais pura e inteligente.

Once in the body, DMT allows the human being to open up vision to different conscience perspectives. Collective aligning through chants and connexions with the shamans (pajés), txanas (singers), guides and guardians, we can have access to expanded conscience from which we are a part with nature. This connection can be understood as formed of transcendence. The forest shows its colors and wisdom when, with calm and surrender, we create clarity from our purest and most intelligent essence.

As medicinas da floresta espalharam-se e inspiraram milhões de adeptos pelo mundo inteiro, cocriando um amplo estudo sobre a consciência da unidade espiritual, cultural e natural. Essa integração é uma vontade íntima de todo ser. É o estado de unidade que permite verdadeiros milagres e transformações na saúde humana, seja individual ou coletiva.

The forest medicines have been spread and inspired millions of adepts throughout the world, cocreating a wide study about the conscience of spiritual, cultural and natural unity. This integration is an intimate will of every being. It’s the state of unity that allows true miracles and transformations in human health, whether individual or collective.

Muitas pessoas encontram, por meio da ayahuasca, insights e ferramentas que auxiliam na construção da coerência interna. São possíveis revelações que se destacam e aparecem com claridade à mente, para além das mirações que o espírito da Rainha acompanha e introduz no aprendizado. A Rainha é o espírito mestre da ayahuasca, chamada por muitos outros nomes nas tradições indígenas e conhecida por todos que reverenciam as medicinas da floresta. É compartilhado um ambiente espiritual seguro no qual os indivíduos possam trabalhar superações pessoais e habilidades inatas, enquanto aprendem sobre compaixão por si mesmo e por todos os seres. O contato com a natureza fortalece os sentidos e sentimentos, transcendendo o intelecto e trazendo a cura que passa a ser uma realidade de cada um.

Many people encounter, with ayahuasca, insights and tools that aid in the construction of the intern coherence. It is possible to have highlighted revelations that show up with clarity to the peaceful mind. It goes along and beyond the “mirações” that the Rainha introduced in the learning. The Rainha (Queen) is the master spirit of ayahuasca, called by many other names in the indigenous traditions and known by all those who reverence the forest medicines. It’s shared a safe spiritual environment in which the individuals can work personal overcomings and innate abilities, while they learn about compassion for yourself and all beings. The contact with nature enhances the senses and sentiments, transcending intellect and bringing the cure that becomes a reality to each one.

A proximidade com tradições ancestrais cria a possibilidade de um contato profundo com um conhecimento disponível a toda humanidade sobre coexistência e corresponsabilidade. A floresta e todos os seus habitantes – humanos e não-humanos – é um coletivo que faz parte da Terra. Faz parte de todos os indivíduos. Compartilhamos um mundo de saberes e horizontes, paisagens harmoniosas, reencontros de jornadas. A ayahuasca é um ponto de luz e união nessa rede; um ponto de conversão que hoje traz o potencial de unir os mais diversos curandeiros, médicos e estudiosos de Gaia. Embarcar nesse estudo é um passo no nosso reencontro com um xamã antigo… uma pele com a qual todos, em alguma existência , caminhamos.

The proximity with ancestral traditions creates the possibility of a profound contact with a knowledge available to all humanity about coexistence and co-responsibility. The forest and all its inhabitants – humans and non-human – are a entourage that’s part of Earth. It’s part of everyone. We share a world of wisdom and horizons, harmonious landscapes, journey reencounters. Ayahuasca is a point of light and union in this network; a conversion point that today carries the potential of uniting many kinds of healers, physicians and students of Gaia. Boarding on this study is a step in our reencounter with an ancient shaman… a skin with which everyone of us, in some existence, have walked.

A medicina da floresta – a copaíba

Óleo de Copaíba – suas propriedades e utilização:
Em uma rápida pesquisa sobre o óleo de copaíba na internet aparece uma série de informações interessantes. Copaíba é uma árvore nativa na região Amazônica, com flores brancas e frutos com vagens contendo uma semente. Sua madeira vermelha é utilizada na marcenaria.

Estudos e pesquisas realizadas com o óleo da copaíba são insuficientes para afirmar que suas propriedades beneficiam o sistema do corpo humano, entretanto, o seu uso é cultural pelos nativos da Floresta Amazônica como uma medicina desintoxicante para o corpo.

Tornou-se um produto importante para o mercado local na Amazônia sendo utilizado, além das medicinas caseiras, em cosméticos e tintas.

Há registros de que a copaíba já era utilizada no Brasil antes da colonização portuguesa, quando os povos originários brasileiros, os índios, perceberam que os animais se esfregavam ao tronco da copaibeira quando tinham algum ferimento. Então, o índio notou que a árvore tinha propriedades medicinais e passou a experimentá-la em seus próprios corpos, confirmando seus efeitos.

A princípio era utilizada para tratar doenças de pele e picadas de insetos. Depois, foram sendo descobertas outras aplicações, principalmente na cicatrização de de ferimentos diversos.

Além das indicação dos pajés como um anti-inflamatório poderoso, estudos acadêmicos apresentam diversas propriedades do óleo de copaíba – sendo utilizado para tratar bronquite, doenças de pele, úlceras e sífilis, bem como para curar feridas.

Do ponto de vista farmacológico, destaca-se o beta-cariofileno, um anti-inflamatório que atua sobre a mucosa gástrica, aliviando azias, curando úlceras e gastrite. Seu poder anti-inflamatório é grande. Quando comparada ao diclofenaco de sódio, que é um medicamento utilizado com eficiência para esse fim, e seu efeito foi duas vezes mais eficiente. Na prática, com uma dose menor, a equivalência terapêutica foi a mesma.

Além de muito útil nas inflamações e infecções, devido à sua ação cicatrizante, a copaíba também tem ação expectorante e antimicrobiana, indicada para diversas doenças e incômodos, como feridas, furúnculos, eczemas, urticárias, seborreias, afecções de garganta, gripe, tosse, disenteria, corrimentos ginecológicos, incontinência urinária.

Fontes:
http://www.minhavida.com.br/alimentacao/tudo-sobre/20317-oleo-de-copaiba
http://www.oleodecopaiba.com.br/
https://www.remedio-caseiro.com/saiba-para-que-serve-o-oleo-de-copaiba/