QUANDO TUDO COMEÇOU

Minha relação com as tribos dos povos originários que vivem no Acre começou após a intensificação de minha jornada espiritual como membro da religião do Santo Daime. Conheci esse caminho espiritual em 2001, mas a partir de 2015 me aprofundei nas práticas da doutrina espiritualista, quando conheci um grupo de seguidores do interior de São Paulo. Nesta oportunidade fui apresentado a um caboclo chamado Francisco da Silva, conhecido como Pelé, originário do Acre. O contato com ele e nossas conversas fez crescer em mim a vontade de conhecer a origem da religião, que tem como base a cultura e o conhecimento ancestral da utilização de plantas medicinais dos povos indígenas dessa região. De forma natural e para alimentar minha curiosidade da alma, a religião e o interesse pelos saberes dessas tribos passou a fazer parte da minha vida. Pude ver como é rica e benéfica a sabedoria do povo da floresta. Imbuído dessa busca pela melhor compreensão da origem desta cultura religiosa – e da cultura dos Índios – viajei para a Floresta Amazônica acreana em março de 2017. Antes de ir eu já intuía que essa viagem poderia mudar a minha cabeça. E mudou!

O relato dessa viagem pode ser lido em sua íntegra na página do Facebook do Povo da Floresta.

Ter conhecido as raízes dos cultos na terra de índios, em aldeias do Alto e Baixo Rio Envira, e Alto Rio Murú, é algo praticamente inenarrável. São realidades muito diferentes de tudo que já havia experimentado. As aldeias e lugares são preenchidas de energia e força espantosas da natureza local. Além disso, a presença de índios que nos tratam de forma pura e como irmãos demonstram na prática como esse grupo de pessoas é iluminado. A busca deles pela preservação de sua cultura, com grande sacrifício e determinação, me deu uma compreensão sobre nosso papel como ser humano integrante de um corpo único formado pelo planeta que habitamos e cada indivíduo. Essa compreensão inaugurou em mim uma uma nova realidade de vida, mais ampla, menos individual, mas que reverencia cada existência dos seres vivos que compartilham essa casa chamada Terra.

Hoje tenho a consciência de que sou um homem branco, chamado de “nawa’’ pelos Kaxinawás, e tenho como objetivo lutar pela preservação e redução do impacto ambiental provocado pelo desmatamento e manejo insustentável na Floresta Amazônica. Minha pequena contribuição será para auxiliar na melhor vivência dos Povos que nela habitam, sejam índios ou não. Sem retirar nada, mas oferecendo instrumentos de regeneração do local, feitos pelos povos que lá habitam desde um tempo imemorial.

MINHA PROPOSTA PODE SER SUA

Com o objetivo de preservar, defender e fortalecer o Povo da Floresta procuro desenvolver projetos locais como a melhor estratégia com sustentabilidade para o futuro da região. Acredito firmemente, que as populações tradicionais da Amazônia são as verdadeiras guardiãs da floresta.

Os povos indígenas em especial, são os primeiros habitantes conhecidos da Amazônia. Eles detêm o conhecimento ancestral da floresta e toda uma tecnologia de interatividade com o meio ambiente sem destruí-lo. Vivem hoje na Floresta Amazônica, mais de 210 mil índios, 405 áreas que representam 20,5% do território amazônico e 98,5% de todas as terras indígenas do Brasil. Mais de 10 milhões de pessoas vivem em áreas rurais na Amazônia, sendo 30.000 comunidades extrativistas.

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A grande maioria das comunidades extrativistas e indígenas já colonizados vivem em condições sociais precárias. Carecem de rede pública de saúde, remédios, saneamento básico, educação e de oportunidades de trabalho, além da forte ameaças dos inimigos da Natureza. A nossa ação é fundamental para conter o avanço da fronteira agropecuária, pecuária e mineração, todas classificadas como ações predatórias do homem na floresta.

Creio ter em mãos, a missão de ajudar a construir uma rede e ser um executor de uma ação de ajuda conjunta para o Povo da Floresta. Sinto-me honrado as Forças Divinas por isso! Junte-se a essa causa, é por amor a vida e as gerações futuras, precisamos defender a Floresta Amazônica.

210

mil índios

405

áreas do território amazônico

10

milhões de pessoas vivem nas áreas rurais

30

mil comunidades extrativistas

NOSSO PROPÓSITO

O Povo da Floresta nasceu de um desejo genuíno de transformação da minha vida. Uns podem dar o nome de chamado, mas eu prefiro dizer que era uma necessidade de buscar um significado maior da minha existência como ser humano. Essa busca me levou a nutrir minha espiritualidade e do autoconhecimento. Muitos são os caminhos. Minha escolha foi tomar o daime (a ayhuasca) e conhecer um pouquinho a cultura dos índios do Acre, região de grande tradição da bebida sagrada. A minha ida ao território dos povos indígenas me encheu de energia imensurável e senti que mais pessoas tinham de conhecer e poder sentir tudo o que vivi.

Percebendo que muitas pessoas como eu passam pela necessidade de reinvenção, de busca de propósito, convidei um grupo de pessoas para ajudar no projeto Povo da Floresta, que possibilita a troca de saberes com povos que vivem na Amazônia, especificamente no Acre.

E é preciso, de alguma forma, retribuir ao povo da floresta. Foi assim que comecei a pensar no projeto de expedições e procurei os líderes das etnias para saber se eles gostariam de participar e se nossa ideia poderia oferecer algum perigo a eles.

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A resposta foi positiva no sentido de contribuir pela busca da espiritualidade e da proteção ao ambiente. Eles decidiram então que podíamos caminhar lado a lado. Assim, desenhamos as expedições para que quem visite consiga se integrar à rica e vasta cultura dos hunikuins, shanenawás e a (terceira etnia).

Nosso intuito é oferecer aos expedicionários e expedicionárias uma experiênica espititual e ambiental, num local de força extrema. Mas sem alterar a rotina dos povos que ali vivem. Por esse motivo, os grupos são de até 10 pessoas e forma de retribuição às tribos é oferecendo materiais que eles escolhem, como ovas de peixes (para criação em pequenos açudes onde podem pescar na época de reprodução dos rios amazônicos), instrumentos musicais e o que eles necessitarem. Os materiais são de escolha dos líderes das tribos e são incluídos no planejamento da expedição. Além disso, o Povo da Floresta forma cada expedicionário ou expedicionária como multiplicador e defensor da cultura desses povos, da floresta e da natureza. Tudo em profundo respeito com o território, com os saberes ancestrais e com os moradores originais da terra que não índios chamam de Brasil.