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Batani: índia artesã hunikuin do Jordão

“Tradução: Meu nome é Batani HuniKuin, tenho 24 anos, sou um ìndia hunikuin, moro na aldeia Boa Vista aqui no Jordão – Acre, e quero contar um pouco do trabalho com diversos artesanatos como: Tecelagem, fazendo tecidos e como eles, faço bolsas de vários tamanhos, toalhas, roupas em geral pequenas, e com vários tipos, tamanhos e desenhos. Todos os pontos que dou em meu trabalho, foram ensinados pela minha avó a muitos anos atrás. É cultural da minha família. Minha mãe também fazia, e eu quando aprendi, era muito pequena, e trabalhava com a minha mãe. Os desenhos também são da cultura hunikuin do jordão, e são muito bonitos.

Cerâmica, também vem da cultura da minha nação fazer trabalhos com cerâmica. Em geral são pequenos vasos de barro que servem para por alimentos, frutas e outros como vaso de água. Algumas mulheres “brancas’’ gostam de coloca plantas, mas aqui não precisamos disso, porque plantamos tudo no chão.

Miçanga, são aquelas pequenas pedrinhas eu juntas dão u colorido bastante bonito, e com desenhos relevantes. Mais do que isso, acredito que faço verdadeiras joias indígenas e com total exclusividade, porque uma peça, nunca sai igual a outra peça. Poucas pessoas conseguem ter porque não conhecem o trabalho das Índias artesãs daqui do Jordão. Colares, pulseiras, brincos, gravatas e outros lindos adornos, eu faço com minhas mãos e meu coração. Sempre que as faço, rezo para que as pessoas que usem, tenham muito amor no coração.

Palha, faço esteiras, redes e dormir, mochilas (com cipó), cesto e outros produtos que nós mesmo aqui na Aldeia usamos.

Madeira pequenas, ripas, cascas de árvore e galhos que estão no chão, eu aproveito para fazer alguns trabalhos de artesanatos. Não danificamos em nada a Floresta, mas tentamos trabalhar com que ela nos dá, e com todo respeito, amor e gratidão a Natureza.

Todos os trabalhos que fazemos aqui, tem como princípio, respeito e gratidão a Natureza.

Noite de cura e bailado nas aldeias da Amazônia

Era 24 de agosto quando Txaná Tuin Hunikuin recém havia retornado à cidade de Jordão, a 418 km de Rio Branco, capital do Acre, no meio da Floresta Amazônica. Naquele dia, no entanto, uma nova viagem estava nos seus planos. Com um grupo de expedicionários vindo do Sul do Brasil, viajaria mais de três horas em um barco pelo rio Tarauacá.

O destino daquela noite: as aldeias Boa Vista e Chico Curumim.

Já anoitecia quando todos se juntaram aos demais índios locais e de outras tribos para formar uma roda de cerimônias programada há tempos por várias lideranças regionais. No centro do velho terreirão o líder religioso Inca Muru abria os trabalhos de pajelança.

De início, os índios reúnem-se, à luz de velas, e uma primeira rodada de nixipae, como é chamada o sagrado chá ayahuasca para o povo kaxinawá. Mais de três dezenas de índios das etnias hunikuin do Jordão, também conhecidos comp kachinawa, começam a cantoria, a bateção do maracá e dos demais instrumentos.

Ouvem-se canções na língua pano, que se intercalam com outras músicas aprendidas dos não índios. Assim que a música tomou conta do terreirão as índias levantaram-se e iniciaram o bailado, numa dança que duraria a noite inteira…


Índios e índias bailando, cantando e tocando ao longo da noite

Quarenta minutos após o início da sessão, os efeitos do nixipae começam.

É quando o Txana se levanta e fala aos visitantes: “nixipae é a ayahuasca, é composto um cipó sagrado e significa professor dos professores do povo nativo da Floresta. Serve para as medicinas, curando o espírito, a matéria e o pensamento das pessoas”.


Txaná Tuin Hunikuin

O ritual segue quando uma segunda dose é servida. A partir daí quem ainda não estava na força da corrente não teve como se controlar. Uma forte limpeza começa – física e espiritual.
A roda do rapé já havia passado também, trazendo mais miração e cura para todos.


Prática do rapé, é a medicina da Floresta em pleno uso da cura

Com mais uma sequência de hinos, foi a vez de Inka Muru, após uma pausa, servir o kawa kawa, erva moída num pó, que transforma-se numa pasta misturada com água, e forma a bebida que traz novos estados de iluminação. “Essa é a nossa medicina nativa.Significa olho do yuxibu, o espírito da floresta. Serve para o pensamento e o espírito. Para matéria se conectar com o yuxibu”, declara o líder religioso.


Pajé Inka Muru da Aldeia Boa Vista no Jordão

A pajelança segue, as índias dançam e a música rompe a madrugada. Quando chega o momento do Sananga, o colírio nativo da floresta.
Os mais velhos começam a pingar nos olhos.
Apenas um dos visitantes experimenta. Em poucos instantes, começa a sentir uma sensação em sua testa, como se estivesse sendo mexida energeticamente. Depois do forte arder, ele relata a sensação de leveza e suavidade na sua visão.

“Usamos o shane tsamati (sananga) para a caçada. Serve pra enxergar bem do ‘cego’, para picada dos insetos, e para curar dos maus espíritos”, diz Txana.

Em meio à roda, começam as aplicações do mulateiro, o banho de folhas que “dá” muitos anos de vida, segundo a crença. Todos passam por mais esta sessão de limpeza, quando os índios preparam matsi pei.
“Serve para esfriar as quenturas, para tumor, para dores de cabeça, para curar dores abdominais, para esfriar o coração e tirar o estresse”, Siã Hunikuin, pajé da aldeia Chico Curumim.

As horas se passam, a miração se acalma e o sol nasce.
É a hora de encerrar a viagem.
A única certeza que ficou aos não índios que ali passaram por aquela noite na aldeia foi a de que nunca seriam os mesmos. O ingresso no coração da floresta e na alma ancestral indígena marcaria para sempre a existência deles.

Haux haux….


Os pajés Inko Murú e Siã Hunikuin junto com o líder Txana Tuim

Em breve, estaremos formando uma expedição para estas duas Aldeias.