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Sananga, o colírio da floresta Amazônica

“Os olhos são as janelas onde tudo o que vemos e projetamos. Tudo está lá guardado, inclusive nossa história. O espírito do sananga faz a cura expulsando todos os males da alma e da matéria.” Essa é a explicação do objetivo da sananga relatada por Tuin Huã Kaxinawá, pajé da aldeia do Caucho do alto do rio Murú,

O espírito da sananga ou shanovo (espírito da floresta) tem como processo medicinal o refinamento da visão espiritual. Assim, a sananga possibilita enxergarmos a verdade que se encontra a nossa volta sem a nossa cegueira pessoal e limitante, permitindo visualizar e deslumbrar a beleza que existe à nossa volta.

É possível uma relação indireta e de auxílio da sananga em algumas doenças psicossomáticas, já que os olhos são nossas janelas para a percepção deste mundo. Enxergar o nosso inimigo com os olhos colabora em nossa luta diária. Assim, esta medicina natural auxilia na percepção do que ocorre em nossa volta, trazendo harmonia e consequente realização espiritual, emocional e física.

A tradição do uso da sananga pelos índios kaxinawás é de pingar uma ou duas gotas em cada olho antes de irem para a caça. Eles acreditam que a substância aguça a percepção facilitando os movimentos sutis da densa floresta, conseguindo assim, distinguir a sua caça. Além de ressaltar texturas visuais, profundidade, cores o que, dizem os índios, auxilia o instinto caçador em sua busca visual da presa dentro da floresta.

O colírio da sananga é obtido por meio da extração de um sumo de planta brejeira em forma de arbusto, chamada Tabernaemontana Sananho. Um dos princípios ativos encontrados é a Ibogaína. Para preparar o colírio são batidas as raízes do arbusto com água limpa e potável, que resultam na extração do princípio ativo da planta.

A Ibogaína provoca uma experiência psicoativa o que pode levar algumas pessoas a transes e/ou rápidas visões, chamadas de mirações por algumas tradições ayahuasqueiras. Após a aplicação, ocorre uma ardência que dura no máximo três minutos, dependendo do estado clínico do paciente e a frequência com que o indivíduo faz uso do colírio. A experiência da sananga é relatada como um momento muito especial. Após a ardência surge uma sensação de completude. É como se o indivíduo estivesse totalmente inserido em um momento atemporal, onde nada mais importa.

Algumas tribos das etnias nawas, utilizam-se da sananga para retirar a chamada panea. Panea é representada por uma forma de energia negativa acumulada que carregamos, normalmente associada ao suco gástrico do estômago, que levam ao acúmulo de todo o tipo de bactérias e doenças. Este acúmulo é originado pela ingestão de carne (que leva à putrefação no aparelho digestório e excretor), de medicamentos e de substâncias tóxicas dos alimentos que não são naturais como os da floresta. A panea pode destruir nossa resistência e saúde.

Espiritualmente e energeticamente, a sananga ajuda a limpar o canal ocular e contribui para a fluidez da percepção no chakra ajna (terceiro olho, ou visão interior). Ou seja, aumenta a percepção e visão espiritual e sensitiva. Em pessoas com sensibilidade mediúnica desenvolvida há a comprovação de expansão do campo áureo. A Ibogaína auxilia ainda no tratamento de dores crônicas e é conhecido como um forte estimulante afrodisíaco, além de facilitar processos meditativos e de introspecção.

Não se recomenda a prática do uso da sananga fora da floresta, local onde a aplicação é realizada de forma adequada durante um trabalho e ambiente apropriado voltado à evolução espiritual e, principalmente, com a orientação de um xamã.

Deve-se considerar que o organismo indígena é mais delicado e possui uma pureza de alimentação, ambiente e qualidade de vida não encontrada no ambiente dos não índios, sendo aconselhada a retirada da panea por meio de sananga pelo povo indígena.

Estudo científicos demonstram possível eficiência na aplicação da sananga, em especial nas doenças bacterianas existentes no globo ocular. Sua aplicação auxilia no tratamento ou prevenção de conjuntivite, terçol, irritações nos olhos, catarata, miopia, hipermetropia, astigmatismo, ambliopia, olho seco, fotofobia, glaucoma, catarata, ceratocone, dores de cabeça, catarro derivante de sinusite e renite. “Nossa visão fica mais precisa, clara e nítida após a aplicação”, afirma o pajé. Apesar de sua contribuição, a sananga não promove a cura de problema físicos existente nos olhos. Importante: é contraindicado seu uso após cirurgias oculares ou em caso de ferimentos ocorridos.


Fontes:

BRAMATTI, J.P.C. (2016) Percepção, alucinação e perspectivas: um jogo de luzes e sombras. Disponível em http://bdm.unb.br/handle/10483/10976

LOPES, B.P.C.S (2017) Estudo etnobotânico de plantas medicinais na Terra Indígena Kaxinawá de Nova Olinda, município de Feijó, Acre Disponível em http://hdl.handle.net/11449/150997>

Blog Xamanismo Universal – Disponível em http://xamanismouniversal.blogspot.com.br/2011/09/sananga-uma-nova-cura-para-os-olhos.html

Blog Alquimia das Árvores – Disponível em http://alquimiadasarvores.blogspot.com.br/

 

 

A medicina da floresta – a copaíba

Óleo de Copaíba – suas propriedades e utilização:
Em uma rápida pesquisa sobre o óleo de copaíba na internet aparece uma série de informações interessantes. Copaíba é uma árvore nativa na região Amazônica, com flores brancas e frutos com vagens contendo uma semente. Sua madeira vermelha é utilizada na marcenaria.

Estudos e pesquisas realizadas com o óleo da copaíba são insuficientes para afirmar que suas propriedades beneficiam o sistema do corpo humano, entretanto, o seu uso é cultural pelos nativos da Floresta Amazônica como uma medicina desintoxicante para o corpo.

Tornou-se um produto importante para o mercado local na Amazônia sendo utilizado, além das medicinas caseiras, em cosméticos e tintas.

Há registros de que a copaíba já era utilizada no Brasil antes da colonização portuguesa, quando os povos originários brasileiros, os índios, perceberam que os animais se esfregavam ao tronco da copaibeira quando tinham algum ferimento. Então, o índio notou que a árvore tinha propriedades medicinais e passou a experimentá-la em seus próprios corpos, confirmando seus efeitos.

A princípio era utilizada para tratar doenças de pele e picadas de insetos. Depois, foram sendo descobertas outras aplicações, principalmente na cicatrização de de ferimentos diversos.

Além das indicação dos pajés como um anti-inflamatório poderoso, estudos acadêmicos apresentam diversas propriedades do óleo de copaíba – sendo utilizado para tratar bronquite, doenças de pele, úlceras e sífilis, bem como para curar feridas.

Do ponto de vista farmacológico, destaca-se o beta-cariofileno, um anti-inflamatório que atua sobre a mucosa gástrica, aliviando azias, curando úlceras e gastrite. Seu poder anti-inflamatório é grande. Quando comparada ao diclofenaco de sódio, que é um medicamento utilizado com eficiência para esse fim, e seu efeito foi duas vezes mais eficiente. Na prática, com uma dose menor, a equivalência terapêutica foi a mesma.

Além de muito útil nas inflamações e infecções, devido à sua ação cicatrizante, a copaíba também tem ação expectorante e antimicrobiana, indicada para diversas doenças e incômodos, como feridas, furúnculos, eczemas, urticárias, seborreias, afecções de garganta, gripe, tosse, disenteria, corrimentos ginecológicos, incontinência urinária.

Fontes:
http://www.minhavida.com.br/alimentacao/tudo-sobre/20317-oleo-de-copaiba
http://www.oleodecopaiba.com.br/
https://www.remedio-caseiro.com/saiba-para-que-serve-o-oleo-de-copaiba/

Noite de cura e bailado nas aldeias da Amazônia

Era 24 de agosto quando Txaná Tuin Hunikuin recém havia retornado à cidade de Jordão, a 418 km de Rio Branco, capital do Acre, no meio da Floresta Amazônica. Naquele dia, no entanto, uma nova viagem estava nos seus planos. Com um grupo de expedicionários vindo do Sul do Brasil, viajaria mais de três horas em um barco pelo rio Tarauacá.

O destino daquela noite: as aldeias Boa Vista e Chico Curumim.

Já anoitecia quando todos se juntaram aos demais índios locais e de outras tribos para formar uma roda de cerimônias programada há tempos por várias lideranças regionais. No centro do velho terreirão o líder religioso Inca Muru abria os trabalhos de pajelança.

De início, os índios reúnem-se, à luz de velas, e uma primeira rodada de nixipae, como é chamada o sagrado chá ayahuasca para o povo kaxinawá. Mais de três dezenas de índios das etnias hunikuin do Jordão, também conhecidos comp kachinawa, começam a cantoria, a bateção do maracá e dos demais instrumentos.

Ouvem-se canções na língua pano, que se intercalam com outras músicas aprendidas dos não índios. Assim que a música tomou conta do terreirão as índias levantaram-se e iniciaram o bailado, numa dança que duraria a noite inteira…


Índios e índias bailando, cantando e tocando ao longo da noite

Quarenta minutos após o início da sessão, os efeitos do nixipae começam.

É quando o Txana se levanta e fala aos visitantes: “nixipae é a ayahuasca, é composto um cipó sagrado e significa professor dos professores do povo nativo da Floresta. Serve para as medicinas, curando o espírito, a matéria e o pensamento das pessoas”.


Txaná Tuin Hunikuin

O ritual segue quando uma segunda dose é servida. A partir daí quem ainda não estava na força da corrente não teve como se controlar. Uma forte limpeza começa – física e espiritual.
A roda do rapé já havia passado também, trazendo mais miração e cura para todos.


Prática do rapé, é a medicina da Floresta em pleno uso da cura

Com mais uma sequência de hinos, foi a vez de Inka Muru, após uma pausa, servir o kawa kawa, erva moída num pó, que transforma-se numa pasta misturada com água, e forma a bebida que traz novos estados de iluminação. “Essa é a nossa medicina nativa.Significa olho do yuxibu, o espírito da floresta. Serve para o pensamento e o espírito. Para matéria se conectar com o yuxibu”, declara o líder religioso.


Pajé Inka Muru da Aldeia Boa Vista no Jordão

A pajelança segue, as índias dançam e a música rompe a madrugada. Quando chega o momento do Sananga, o colírio nativo da floresta.
Os mais velhos começam a pingar nos olhos.
Apenas um dos visitantes experimenta. Em poucos instantes, começa a sentir uma sensação em sua testa, como se estivesse sendo mexida energeticamente. Depois do forte arder, ele relata a sensação de leveza e suavidade na sua visão.

“Usamos o shane tsamati (sananga) para a caçada. Serve pra enxergar bem do ‘cego’, para picada dos insetos, e para curar dos maus espíritos”, diz Txana.

Em meio à roda, começam as aplicações do mulateiro, o banho de folhas que “dá” muitos anos de vida, segundo a crença. Todos passam por mais esta sessão de limpeza, quando os índios preparam matsi pei.
“Serve para esfriar as quenturas, para tumor, para dores de cabeça, para curar dores abdominais, para esfriar o coração e tirar o estresse”, Siã Hunikuin, pajé da aldeia Chico Curumim.

As horas se passam, a miração se acalma e o sol nasce.
É a hora de encerrar a viagem.
A única certeza que ficou aos não índios que ali passaram por aquela noite na aldeia foi a de que nunca seriam os mesmos. O ingresso no coração da floresta e na alma ancestral indígena marcaria para sempre a existência deles.

Haux haux….


Os pajés Inko Murú e Siã Hunikuin junto com o líder Txana Tuim

Em breve, estaremos formando uma expedição para estas duas Aldeias.