Os papéis das mulheres nas aldeias indígenas do Rio Envira.

A Comissão de Mulheres Indígenas da Rio Envira – COMIRE é formada por representantes mulheres e de jovens de 39 aldeias na região de Feijó/Acre. São elas que incentivam  trabalho coletivo e a boa educação na aldeia e são escolhidas pela comunidade pelo seus dom e talento nas atividades que realiza.

 

Siriani Kawinawa é a atual líder da Comissão de Mulheres Indígenas da Região do Envira – COMIRE e explica que os objetivos da comissão são de participar de eventos e reuniões regionais, governamentais ou não, representando a coletividade feminina exigindo seus direitos e necessidade além do compartilhamento destas informações com a comunidade das mulheres caciques, artesãs, parteira e pajé. Siriani explica que a habilidade do artesanato é passada de geração por geração tornando as mulheres artesãs nas quatro etnias indígenas. A cacique mulher representa a aldeia em reuniões externas e entre aldeias e é escolhida em uma reunião da comunidade. Normalmente o cacique representa uma família com o posto ocupado de pai ou mãe para filho ou filha e o escolhido deve possuir a capacidade de diálogo. A parteira normalmente faz todos os partos da aldeia e esta habilidade é identificada pela mãe nas filhas. A formação de parteira não é certificada, contudo é muito importante ser valorizada e reconhecida pela sociedade a parteira indígena. Já a formação do pajé é feita com o acompanhamento do aprendiz das atividades do pajé. Atualmente jovens estão se formando pajé incorporando o conhecimento das plantas, dos chás, das dietas tendo a necessidade de cumprir uma série de etapas e dietas sendo a formação continua do aprendizado. A troca de conhecimento entre os pajés é uma atividade constante no mundo indígena.

 

 

O rapé, sua dieta e o autoconhecimento

Conheça o rapé: o ancestral pó amazônico e suas indicações

Relato de Pedro Benatti Alvim, do Povo da Floresta.

Entre os povos indígenas da Amazônia é costume fazer alterações na alimentação quando determinadas pessoas são iniciadas espiritualmente em determinados estudos. As chamadas dietas são restrições alimentares que variam de acordo com o propósito. Por exemplo, a dieta de um caçador que irá acampar durante vários dias na mata para trazer carne para a comunidade é diferente da dieta de um pajé que se aprofunda no estudo da ayahuasca ou do rapé.

Folhas de tabaco secando ao sol pra fazer rapé

Muitas pessoas ficam curiosas e visitam esses povos para ampliar o estudo da pajelança e curandeirismo amazônicos. Os shawãdawas, hunikuin, katukina, yawanawa e outros do Acre normalmente introduzem a dieta do rapé para não índios interessados no tema. Essa dieta é vista como um primeiro passo para se conhecer com mais respeito as medicinas da floresta.

Durante 21 dias, a pessoa iniciada elimina de sua rotina o sal, o açúcar, todos os tipos de carne e atividade sexual. Frutas e derivados de animais são permitidos, e é um preceito que pode variar entre cada etnia. A comida preparada para as pessoas que estão nessa dieta são preparadas especialmente para elas, e não podem ser divididas com outros que estão se alimentando normalmente para que o propósito da energia se preserve.

O rapé, medicina feita a partir de tabaco moído e cinza de árvores, deve ser auto-aplicado durante os dias. Não se restringem o número de aplicações, mas se sugere uma disciplina de pelo menos dois ou três sopros por dia: uma ao acordar, em jejum; uma ao anoitecer e um antes de dormir. A primeira e a última aplicação do dia são fundamentais nesse estudo. Por ser um estudo pessoal que irá familiarizar a energia do estudante com a medicina da floresta, a pessoa não pode receber sopro de outras pessoas durante a dieta.

A ideia de se eliminar certas atividades e alimentos durante o período é de purificar o corpo e limpar o canal espiritual. Esse jejum voluntário retira certos vícios alimentares comuns e coloca a pessoa em estado mais intenso de auto-observação. Assim ela terá mais clareza dos ensinamentos da floresta ao consagrar o rapé e outras medicinas.

Os pajés mais velhos também conhecem outras dietas para afastar doenças e conhecer outras medicinas. No entanto, são estudos mais profundos que devem ser passados pessoalmente àqueles que estão trilhando o caminho, preservando a tradição e os mistérios da floresta.

Sopro do rapé feito em ritual shanenawá. Imagem meramente ilustrativa