Não adianta agradar apenas a Gisele

Uma rápida consulta aos principais doadores do Fundo Amazônia é mais do que o suficiente para entender as razões que levaram a primeira ministra da Noruega, Erna Solberg, a repreender publicamente Michel Temer, durante conferência de imprensa conjunta, realizada nesta sexta-feira (23/06) após reunião entre os dois governantes na visita oficial do presidente brasileiro ao país nórdico. Em meio às críticas quanto à corrupção no Brasil e um pedido para que o país faça uma “limpeza” nos desvios de recursos públicos, Erna falou sobre a preocupação da Noruega com o aumento do desmatamento na floresta amazônica e anunciou que reduzirá as doações ao fundo, porém sem dar maiores detalhe sobre a retração no valor.

Para se ter uma ideia da importância do Governo da Noruega, dos R$ 2,850 bilhões doados mais de R$ 2,77 bilhões vieram do país – ou seja, 97,3% do total. Os valores compreendem o período de 2009 a 2017. Em segundo, vem o governo alemão, com R$ 60,6 milhões, seguido da Petrobras, com R$ 14,7 milhões.

De acordo com o Fundo Amazônia, a captação de recursos está condicionada à redução da emissão de gases de estufa oriundos do desmatamento. Somente após a comprovação é que novas captações de recursos podem ser viabilizadas. Entre as razões para a existência do Fundo Amazônia estão a promoção de projetos para a prevenção e o combate ao desmatamento e também à conservação e o uso sustentável das florestas no Bioma Amazônia. A gestão é realizada pelo BNDES, que conta ainda com um Comitê Orientador que reúne representantes do Governo Federal, dos estados da Amazônia Legal e da sociedade civil organizada.

Cabe ressaltar, contudo, que uma das maiores causas para o desmatamento e a consequente perda dos recursos para tocar adiante os projetos do Fundo Amazônia é exatamente a pecuária. Ou seja, o Brasil vem sacrificando um dos maiores patrimônios da humanidade para a criação de gado, destinados ao consumo interno e à exportação.

Dessa forma, lembrando que a Premiê norueguesa reforçou a necessidade do combate à corrupção, não se pode dissociar o paradoxal apoio que o governo sempre deu, por meio do BNDES, aos gigantes frigoríficos, especialmente à JBS (agora de lado oposto, após a delação dos irmãos Batista) – incentivando o próprio desmatamento.

Para um país que, segundo a mais recente pesquisa da Transparência Internacional, ficou em 6º lugar no ranking de percepção de nações menos corruptas, criticar o Brasil, que ficou na inglória 79ª colocação, é muito simples. O difícil é explicar como um governo é dependente de empresas, como JBS, para permanecer no poder, por meio de Caixa 2, alicerçando uma relação promíscua entre o dinheiro público e o privado.

Como se vê não adianta nada começar a semana agradando a modelo Gisele Bündchen, vetando as MPs 756 e 758 – que poderiam diminuir a área preservada na Amazônia – e chegar ao final de semana com uma redução representativa de recursos para conter o desmatamento no futuro.

Mais do que tentar responder à top model brasileira, via Twitter, o governo brasileiro tentou, na verdade, com os vetos às MPs, era melhorar sua barra com o governo da Noruega, às vésperas da viagem de Temer. Mas o esforço pelo que se viu foi inútil. (Rodrigo Petry)

Fonte: http://www.fundoamazonia.gov.br/FundoAmazonia/fam/site_pt/Esquerdo/Doacoes/

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