Os papéis das mulheres nas aldeias indígenas do Rio Envira.

A Comissão de Mulheres Indígenas da Rio Envira – COMIRE é formada por representantes mulheres e de jovens de 39 aldeias na região de Feijó/Acre. São elas que incentivam  trabalho coletivo e a boa educação na aldeia e são escolhidas pela comunidade pelo seus dom e talento nas atividades que realiza.

 

Siriani Kawinawa é a atual líder da Comissão de Mulheres Indígenas da Região do Envira – COMIRE e explica que os objetivos da comissão são de participar de eventos e reuniões regionais, governamentais ou não, representando a coletividade feminina exigindo seus direitos e necessidade além do compartilhamento destas informações com a comunidade das mulheres caciques, artesãs, parteira e pajé. Siriani explica que a habilidade do artesanato é passada de geração por geração tornando as mulheres artesãs nas quatro etnias indígenas. A cacique mulher representa a aldeia em reuniões externas e entre aldeias e é escolhida em uma reunião da comunidade. Normalmente o cacique representa uma família com o posto ocupado de pai ou mãe para filho ou filha e o escolhido deve possuir a capacidade de diálogo. A parteira normalmente faz todos os partos da aldeia e esta habilidade é identificada pela mãe nas filhas. A formação de parteira não é certificada, contudo é muito importante ser valorizada e reconhecida pela sociedade a parteira indígena. Já a formação do pajé é feita com o acompanhamento do aprendiz das atividades do pajé. Atualmente jovens estão se formando pajé incorporando o conhecimento das plantas, dos chás, das dietas tendo a necessidade de cumprir uma série de etapas e dietas sendo a formação continua do aprendizado. A troca de conhecimento entre os pajés é uma atividade constante no mundo indígena.

 

 

O rapé, sua dieta e o autoconhecimento

Conheça o rapé: o ancestral pó amazônico e suas indicações

Relato de Pedro Benatti Alvim, do Povo da Floresta.

Entre os povos indígenas da Amazônia é costume fazer alterações na alimentação quando determinadas pessoas são iniciadas espiritualmente em determinados estudos. As chamadas dietas são restrições alimentares que variam de acordo com o propósito. Por exemplo, a dieta de um caçador que irá acampar durante vários dias na mata para trazer carne para a comunidade é diferente da dieta de um pajé que se aprofunda no estudo da ayahuasca ou do rapé.

Folhas de tabaco secando ao sol pra fazer rapé

Muitas pessoas ficam curiosas e visitam esses povos para ampliar o estudo da pajelança e curandeirismo amazônicos. Os shawãdawas, hunikuin, katukina, yawanawa e outros do Acre normalmente introduzem a dieta do rapé para não índios interessados no tema. Essa dieta é vista como um primeiro passo para se conhecer com mais respeito as medicinas da floresta.

Durante 21 dias, a pessoa iniciada elimina de sua rotina o sal, o açúcar, todos os tipos de carne e atividade sexual. Frutas e derivados de animais são permitidos, e é um preceito que pode variar entre cada etnia. A comida preparada para as pessoas que estão nessa dieta são preparadas especialmente para elas, e não podem ser divididas com outros que estão se alimentando normalmente para que o propósito da energia se preserve.

O rapé, medicina feita a partir de tabaco moído e cinza de árvores, deve ser auto-aplicado durante os dias. Não se restringem o número de aplicações, mas se sugere uma disciplina de pelo menos dois ou três sopros por dia: uma ao acordar, em jejum; uma ao anoitecer e um antes de dormir. A primeira e a última aplicação do dia são fundamentais nesse estudo. Por ser um estudo pessoal que irá familiarizar a energia do estudante com a medicina da floresta, a pessoa não pode receber sopro de outras pessoas durante a dieta.

A ideia de se eliminar certas atividades e alimentos durante o período é de purificar o corpo e limpar o canal espiritual. Esse jejum voluntário retira certos vícios alimentares comuns e coloca a pessoa em estado mais intenso de auto-observação. Assim ela terá mais clareza dos ensinamentos da floresta ao consagrar o rapé e outras medicinas.

Os pajés mais velhos também conhecem outras dietas para afastar doenças e conhecer outras medicinas. No entanto, são estudos mais profundos que devem ser passados pessoalmente àqueles que estão trilhando o caminho, preservando a tradição e os mistérios da floresta.

Sopro do rapé feito em ritual shanenawá. Imagem meramente ilustrativa

Vida e alimentação numa comunidade ribeirinha da Amazônia

Relato de Pedro Benatti Alvim, do Povo da Floresta.

Há tempos eu tinha o sonho de visitar o Acre e conhecer seus povos indígenas. Transformado por uma jornada espiritual interna na cidade, senti que precisava externalizar essa viagem, indo às raízes daquele conhecimento que tanto estudava. Em São Paulo, fui surpreendido por um convite de Ana e Anazildo (Nazinho) Siqueira Shawãdawa para visitar sua casa no Croa. Sinto que vivi os frutos do que gerações de índios, africanos, sertanejos e tantos povos ancestrais são capazes de oferecer de maneira tão única nos rios dessa terra brasileira. Conto aqui um pouco sobre a vida e alimentação de uma comunidade ribeirinha da Amazônia brasileira

O Croa é um igarapé ligado ao rio Juruá a mais ou menos 35 quilômetros da cidade de Cruzeiro do Sul. A comunidade ribeirinha que vive em suas ricas margens estabeleceu-se lá há cerca de 30 anos. Atraídos primeiramente pela extração de látex na região amazônica, hoje os ex-seringueiros, seus filhos, filhas, primos, netos etc. sustentam-se de forma criativa e variada dos recursos que a natureza oferece. Pesca, extração de frutíferas, carpintaria, artesanato e, sobretudo, o turismo comunitário são algumas das atividades que seus moradores empreendem ali mesmo, prezando e preservando a riqueza local. O compadrio e a camaradagem são cotidianos no rio Croa, que fecha em paz seus laços de aliança e se abre para receber pessoas de todo o mundo.

Como é a vida e a alimentação em um lugarejo na Amazônia brasileira

Cheguei em Cruzeiro do Sul às 23h30 do dia 29/12/2017 e logo no desembarque encontrei Nazinho e o taxista que ele chamou para nos levar até a ponte da BR-364 sobre o rio Crôa. No caminho passamos na casa da mãe de Ana dentro da cidade e seguimos pela estrada. Na ocasião não conheci Dona Vera, mas ao passar das semanas compreendi que ela tem uma localização estratégica fundamental na família. Por morar na cidade, seu acesso às redes de telefone e internet permite que seus filhos e genros tenham um lugar onde podem resolver contatos com calma, comerem e descansarem. Ela mantém uma venda ao lado de sua residência e tem muita disposição para ajudar na postagem de mercadorias e transações bancárias, apesar das dores que sente na perna, uma condição de saúde que carrega há anos.

Chegamos à ponte com minha bagagem mais ou menos 0:30 e paguei R$150 ao taxista. Ali descemos por uma breve passagem que levava ao pequeno cais onde se estacionam os barcos. Esse ponto também é estratégico por possuir uma pequena mercearia e a casa de Piôla, seu dono. Além de alguns alimentos e outros objetos à venda (isqueiro, velas, hélices de motor de barco etc.), a casa de Piôla também serve como garagem para as motocicletas dos moradores do Crôa. Infelizmente isso não garante segurança, pois mais de uma vez a moto de Nazinho foi encontrada ali sem gasolina ou com peças quebradas. De qualquer maneira, é uma camaradagem comum entre os moradores da região e ajuda muito em termos de transporte. Há outros moradores que embarcam suas motos para atravessar o rio sempre que a usam e isso envolve um custo maior.

A canôa de Ana e Nazinho, a Flor das Águas

Entramos na canoa de Ana e Nazinho, a Flor das Águas, navegamos sob a luz da lanterna e da lua por aproximadamente 15 minutos até chegarmos à residência do casal de barqueiros. Apenas durante o dia pude ter uma noção do quão preservado estava o igarapé: uma abundante mata adjacente e pouquíssima poluição, encontrando apenas alguns raros pacotes de salgadinho vazio ou latas de cerveja nos pontos mais frequentados.

Entre os animais que vi ao longo do rio, posso citar: pássaros (japó amarelo, japó vermelho, tucanos, bem-te-vi, galinha-d’água e outros), tartarugas, inúmeros peixes que ocasionalmente pulavam da agua para se alimentar, pequenas cobras, mucura (um tipo de gambá), famílias de macacos e teias gigantes de aranha.

Ao chegar na casa, fiquei muito feliz com sua simplicidade e com a boa recepção. Assim que subimos os três degraus de madeira na frente da casa, entramos na cozinha e tomamos um açaí da região. Forte e sem açúcar, o suco dessa fruta nativa é muito apreciada junto com o “vinho” de outras frutas similares, como o buriti, patuá, abacaba e cupuaçu. Desses, apenas o cupuaçu é normalmente servido com açúcar por seu gosto azedo.

Conversamos um pouco sobre os planos dos próximos dias, pois seria a véspera de Ano Novo, e das necessidades de gastos de transporte para fazermos a viagem. Iríamos passar a virada de ano na casa da filha do casal, Camila, em Rodrigues Alves, com seu marido, filha e outros parentes. Para tanto, deveríamos levar alguns alimentos para colaborar com a ceia, então fomos para a cidade no dia seguinte provisionar algumas coisas.

Alimentação

Os alimentos cotidianos da população ribeirinha se estendem em muitas medidas para os índios shawandawa, como é comum entre os povos indígenas do Acre. Destacam-se a farinha de mandioca, o arroz, o feijão carioca, o macarrão (presente quase todos os dias), ovos, todos os tipos de carne com predominância de peixes e aves, inclusive de caça, alho, cebola, pimenta-de-cheiro e alguns temperos da horta (cebolinha, manjericão).

Banana-prata, banana-da-terra e goiaba branca são abundantes por estarem plantados no terreno e nas vizinhanças, além de alguns tipos de limão e palmeiras de região. Grande parte dos dendês e buritis que caem dessas palmeiras são aproveitados pelos animais quando as pessoas não os colhem. Apesar da macaxeira (mandioca, aipim) também estar presente na forma de raiz, era muito mais comum encontrarmos sua farinha pela facilidade de armazenamento. Um detalhe curioso é que o povo de Cruzeiro do Sul se orgulha muito de sua farinha bem seca, grossa e saborosa. A Ana costumava dizer: “essa farinha é muito melhor do que a de Rio Branco. Tem lugar no Brasil que o pessoal até pede pra gente mandar porque não encontra! E na hora de tomar um caldo faz uma falta!”

Em comunidades como o Crôa, próximas aos centros urbanos, é comum trazer legumes e verduras mais difíceis de se encontrar na região, como alface, tomate, pepino, cenoura e beterraba. Pelo menos quatro ou cinco dias da semana podíamos contar com uma bela salada em alguma das refeições. De fato, não há o costume local de se ter hortas fartas em legumes principalmente por conta das cheias sazonais que destroem as plantas domésticas.

Todo dia há três refeições principais e, ocasionalmente, uma merenda à tarde. Durante o feitio de ayahuasca, há o trabalho de cozinhar para um contingente de 15-20 pessoas de maneira regular. Para tanto, a cozinha ficava sob a tutela das mulheres enquanto os homens se ocupavam com a ayahuasca. Normalmente todos acordavam naturalmente com o nascer do sol entre 6h e 7h, e até as 8h havia pelo menos um café coado e um chá nas garrafas térmicas. Até as 9h era servido o café da manhã, que variava entre pãos caseiros, banana da terra cozida, tapioca, manteiga, mingau de aveia com leite, vitaminas e, ocasionalmente, ovos fritos. Pela abundância de árvores frutíferas no terreno, especialmente goiabeiras, bananeiras e ingazeiras, todos eram livres para “buscar” o próprio alimento a qualquer momento.

A carne é muito apreciada na região, especialmente se os animais são caçados ou criados na região. Galinhas, patos e porcos são comuns nos quintais das casas e se alimentam tanto de rações, quanto de grãos, frutas e restos de alimentos. As fazendas de gado bovino não estão próximas da comunidade do Crôa, mas seu alimento também é apreciado. Nessa viagem, o boi esteve muito presente enquanto animal de trabalho para trazer a lenha cortada do terreno. A carne de caça tem um lugar especial devido à tradição indígena e muitos já viveram dessa atividade ou possuem algum parente próximo que o faça. Carne de veado, queixada (porco do mato) e o pássaro nambu são as mais comuns, mas a variedade de bichos nessa categoria é grande, indo da cotia ao jacaré.

A pesca também é costume entre os ribeirinhos e indígenas. Sempre que navegávamos pelo rio, era possível ver redes de pesca estendidas em seu curso – as mangas. Esse método consiste em deixar uma rede de 20 a 50 metros atravessando o rio durante algumas horas (às vezes da noite pro dia ou do dia pra noite). Dependendo da estação e da sorte, a espera pode render bons quilogramas de peixe. Outro método é a “tarrafa”, onde a rede é jogada na água e afunda, capturando os peixes no caminho. A pesca com vara também compõe o cenário, geralmente feito em canoas menores a remo para evitar que o motor afaste os animais aquáticos. A variedade de peixes é tanta que não sei informar quantos tipos moram no rio e vão às mesas. Os açudes (criadouros de peixes) são mais comuns próximos à estrada, onde o acesso aos rios e igarapés é limitado.

 

Turismo de base comunitária cocriado com índios

O projeto Povo da Floresta realiza um trabalho de cocriação com as comunidades locais do Acre para fortalecer uma rede de pessoas e a consciência de atuação que deve perpassar e se traduzir em benefícios do próprio espaço físico e dos índios. Juntos com as comunidades indígenas com as quais trabalhamos na Amazônia brasileira temos uma oportunidade para aprender a história, modos de vida e características de culturas únicas com seu ambiente. Além de conhecer o próprio ambiente e sua harmonia natural, integrada a esses povos de maneira ancestral. Esse modelo não só derruba as fronteiras que a sociedade ocidental está acostumada a criar entre natureza e cultura: ele recria e fortalece seu elo.

O turismo de base comunitária que realizamos, em si, envolve dois conjuntos de atores principais: a gente que nasceu e viveu no local por gerações e, claro, os “estrangeiros”, nacionais e internacionais, convidados a adentrar esse mundo de relações. No meio desses dois conjuntos estão os mediadores formado por uma mescla de cada lado, indígenas e não-indígenas. São agentes dispostos a trabalhar na integração de diferentes pontos de vista de mundo, traduzindo e resolvendo desafios de tornarem confortáveis a experiência do contato. Esse esforço envolvido permite que preconceitos e vícios de interação sejam superados. A depredação do patrimônio natural e cultural (a floresta e seu povo), o enquadramento em papéis pré-estabelecidos e estereótipos e a exploração das etnias nativas, sem levar em conta seus desafios e necessidades materiais concretos, podem ser evitados por meio do estudo prévio e trabalho coletivo durante esse tipo de empreendimento.

Consequentemente, por meio da nossa atuação dentro da lógica do turismo de base comunitária temos:

  • Incentivos à formação de associações e cooperativas ligadas com as particularidades locais;
  • Prosperidade às comunidades envolvidas, tanto em termos materiais quanto simbólicos;
  • Adequação e criação de estruturas para abrigar e conduzir, sem prejuízos, as pessoas pelo ambiente e na convivência com as culturas;
  • Enriquecimento educacional para todos os envolvidos na experiência, com o surgimento de ideias que podem ser aperfeiçoadas com o tempo;
  • Maiores oportunidades de relações honestas e amigáveis entre cada conjunto de agentes;
  • Engrandecer a união e harmonia espiritual entre a natureza e o ser humano, tão importante nos povos indígenas. A espiritualidade da floresta é mundialmente conhecida por curar e fortalecer as pessoas que abrem seus corações a experiência da entrega, independentemente de suas religiões originais.Da mesma forma que eu tivemos a honra de vivenciar e aprender um pouco da cultura, da culinária, da medicina, dos trabalhos espirituais, trabalhos de cura, e outros costumes, propomos como o nosso projeto que outras pessoas vivenciem isso também.

Venha vivenciar esta cultura e realizar trabalhos coletivos e colaborativos para o fortalecimento e sustentabilidade de um povo que vivem em um país com nome de uma árvore, Brasil!

Qual é a função do cacique?

Cacique, segundo o Dicionário Aurélio de língua portuguesa, é o chefe indígena. A palavra é utilizada pelo não índio para se referir à autoridade de uma tribo, etnia ou comunidade indígena. Segundo antropólogos e estudiosos dos povos originários do Brasil, cada povo tem uma palavra em sua língua original para se referir a quem cuida da organização política e estrutural de sua comunidade. Por exemplo, as etnias cujo ramo familiar está ligado ao povo guarani utilizam a palavra morubixaba (ou variações dela) para se referir ao cacique. Da mesmo forma que o pajé (o farol espiritual e religioso de uma tribo) pode receber o nome de cumu ou xamã por seus grupo. A forma como cada tribo ou grupo se organiza varia de acordo com sua cultura. É possível ainda que um cacique acumule também a função de pajé, mas não se tem registros de que uma mulher tenha assumido a função do cacique.

A utilização da palavra usada pelos não índios remonta a chamada colonização portuguesa e espanhola na América do Sul, no século XV. Isso explicado, falaremos da figura do cacique, sempre lembrando que ao entrar em contato com uma tribo ou índio será provável que usará o nome correspondente em sua língua original.

Geralmente, as aldeias escolhem um cacique como seu representante perante seu grupo e nas relações com outros grupos. Em aldeias menores ele é o chefe do grupo doméstico ligado ao fundador do local, seguindo alguma tradição hierárquica. Nas aldeias maiores tem-se registro de um organização mais variada, com o uso de rodízio na indicação dos caciques, escolhidos pela população entre os chefes de grupos domésticos – que podem ocupar o posto diretamente ou indicar alguém relacionado a eles para fazê-lo. Muitas vezes, as aldeias indicam também um vice-cacique e um conselho. A predominância dessa estrutura é de homens.

“O poder do chefe, de natureza marcadamente pacífica, depende da anuência do grupo, sobretudo do apoio dos líderes de grupos domésticos. Sua habilidade política se expressa pela palavra, nos discursos e exortações na praça. As regras de sucessão ao status de líder da aldeia são flexíveis e costumam suscitar muita competição pelo cargo.”

Trecho da publicação Povos Indígenas no Brasil (Instituto Socioambiental, ISA, com dados de 2011 até 2016.

Dentro da organização dos índios, a função do cacique é de direcionar seu povo, sendo seu líder nos momentos de decisões coletivas, desacordos e brigas, mas também no cotidiano tranquilo. A palavra e ordem do cacique é a que determina para onde vai o seu povo. Em cerimônias diversas na tribo, sua presença é indispensável e tem um lugar reservado, como forma de reverência à sua função. Nos rituais religiosos, o cacique pode ter seu poder e papel de liderança dividido – ou cedido – ao pajé do grupo, devido a uma hierarquia espiritual reconhecida e desenhada pelo seu próprio povo.

Como as línguas e o comportamento dos povos são sempre vivos e mutáveis, é preciso se adaptar.
“Ultimamente, a opção de escolha de caciques tem recaído em homens mais jovens, escolarizados e que saibam se articular bem em português e fora da aldeia” (ISA, 2016).

Fontes:

Povos Indígenas no Brasil (Instituto Socioambiental, 2016)
https://pib.socioambiental.org/pt/povo/palikur/172

Dicionário Aurélio
Wikipedia, verbete cacique

Os shawãdawás

Os shawãdawas compõem um grupo originário da Terra Indígena Arara do Igarapé Humaitá, localizada no Alto Juruá, no estado brasileiro do Acre. Em 2010, segundo dados do Museu do Índio (Governo Federal do Brasil), a população era de 880 pessoas, enquanto levantamento de 2014 do Instituto Sociambiental (ISA) indica como remanescentes apenas 677 indivíduos.

Segundo o Museu do Índio (Governo Federal do Brasil), na região de Humaitá, atualmente encontram-se três comunidades e cinco aldeias da etnia, sendo elas respectivamente: Foz do Nilo, Raimundo do Vale e Novo Acordo; Santo Antônio, Paz, Bom Futuro, Matrinchã e São Luiz. No rio Val Paraíso, afluente direto do Juruá. Em decorrência do nome da sua área original, muitas vezes são chamados de arara por índios de outras etnias e não índios. Mas entre eles se autodenominam shawãdawas.

Como outros grupos indígenas do Acre, como os hunikuins e os shanenawás, os shawãdawas passaram pelas dificuldades impostas pelo período denominado de Ciclo da Borracha (1870 até 1913), passagem histórica que afetou de forma violenta e definitiva a porção acreana da Amazônia e parte da região Norte do Brasil. Nas batalhas com seringueiros e migrantes impulsionados por uma política migratória de estado, muitos desses povos originários foram explorados, aprisionados, mortos e tiveram suas vidas cerceadas pelo movimento de produção dos seringais. De acordo com dados do ISA, nos anos recentes essa etnia tem se empenhado no processo de revalorização de sua família linguística, pano. Atualmente também trabalham para fortalecer e recuperar suas tradições (com a ajuda dos mais antigos e que ainda dominam a língua).

Esse povo viveu um grande período de discriminação ao falarem sua língua materna, e por esse motivo ficaram um longo período sem transmiti-la a seus descendentes, gerando uma população infantil educada apenas em português. A consequência da interrupção do uso da língua foi o desaparecimento da terminologia de parentesco como a possível divisão social em metades, e em quatro (característica de outros grupos de língua pano). No início da década de 1990 eles começaram uma processo de resgate da língua, e passaram a trabalhar uma educação bilíngue no grupo, com o apoio Comissão Pró-Índio do Acre (CPI-Acre).

A organização social nas aldeias se dá hoje por meio das lideranças indígenas, os caciques. Hoje há três, um para cada aldeia. As aldeias remanescentes não têm mais uniformidade por família, havendo indivíduos das principais famílias nas três aldeias. Assim como a retomada da língua original, os shawãdawas trabalham por um rearranjo no parentesco do grupo com o intuito de formarem descendentes. Nesse sentido, da união de um homem de origem mesmo que longínqua desse povo com uma mulher shawanáwa resulta um descendente da etnia da mãe, um legítimo shawãdawa.

Esta etnia é, de maneira geral, monogâmica e não tem um ritual para consolidar uma união, geralmente seguindo os ritos católicos. No entanto, existem regras para que ocorra uma casamento: o homem precisa ter uma espingarda para caçar e deve plantar um roçado para sustentar a mulher. É preciso também que ele construa uma casa (enquanto a habitação não fica pronta a esposa mora na casa do pai do marido). O casamento é incentivado entre jovens casais, em uma faixa etária dos 13 ao 16 anos, o que favorece o crescimento populacional. Os papéis desempenhados seguem a forma binária (homem-mulher) que divide as tarefas por gênero.

A alimentação desse povo tem tradição na caça e agrícola, ambas funções do homem no código local, mas com a permissão de que as mulheres ajudem durante a colheita. A base da alimentação dos shawãdawas vem da mandioca, da qual também fazem a farinha. As mulheres se ocupam das atividades domésticas, cuidando da casa, dos filhos e de algumas criações, como porco e galinha. Mulheres também não participam da caça.

Os shawãdawas mais idosos são responsáveis hoje por passar as tradições desse povo às gerações. Por guardarem em si as memórias são muito respeitados. São esses guardiões que transmitem aos jovens, crianças e adultos as histórias mitológicas e os rituais, como a dança mariri (comum entre os grupos de língua pano), o sinbu (bebida sagrada ou ayahuasca) e o kampô.

Nos rituais de mariri, as pessoas mais antigas, aquelas que falam a língua fluentemente, cantam e ensinam os mais jovens. O ritual do sinbu é praticado, mas alguns índios dessa etnia não costumam mais ingerir o sinbu, mesmo tendo feito uso dele em algum momento. Em período anterior à introdução deste povo no sistema produtivo da borracha o uso do sinbu era mais recorrente, inclusive para sessões de cura, quando o pajé consumia a bebida e buscava os males no paciente para retirá-los e trazer de volta a saúde.

Segundo informações do ISA, a partir da década de 1990, alguns shawãdawas tornaram-se adeptos do Santo Daime, mas pela introdução da religião não contar com a adesão total das aldeias do grupo poucos indivíduos se consideram daimistas. Entre este povo há duas formas de usar ritualisticamente a ayahuasca: a primeira, a mais tradicional, em sessões de cura; e a segunda, por aqueles que consomem o cipó com a intenção de partilharem da doutrina do Santo Daime.

Já o ritual do kampô é utilizado para recuperar as qualidades essenciais do caçador: pontaria, visão, audição e sorte. Pegam o sapo kampô (verde e grande) e retiram dele, com um graveto, o um líquido que parece leite que fica ao longo de seu corpo. Depois, queimam dois ou três pequenos pontos circulares na pele do caçador com cigarro, ou com brasa, para introduzirem o leite sobre a queimadura. Essa aplicação gera vômitos e excreção e os índios acreditam que abrem a capacidade de ver e sentir os movimentos dentro da selva, o que facilita a caça.

 

Fontes:

Museu do Índio – http://prodoclin.museudoindio.gov.br/index.php/etnias/shawadawa/povo#HIST%C3%93RIA

PIB Socioambiental, Instituto Socioambiental (ISA)

https://pib.socioambiental.org/pt/povo/arara-shawadawa

 

Sananga, o colírio da floresta Amazônica

“Os olhos são as janelas onde tudo o que vemos e projetamos. Tudo está lá guardado, inclusive nossa história. O espírito do sananga faz a cura expulsando todos os males da alma e da matéria.” Essa é a explicação do objetivo da sananga relatada por Tuin Huã Kaxinawá, pajé da aldeia do Caucho do alto do rio Murú,

O espírito da sananga ou shanovo (espírito da floresta) tem como processo medicinal o refinamento da visão espiritual. Assim, a sananga possibilita enxergarmos a verdade que se encontra a nossa volta sem a nossa cegueira pessoal e limitante, permitindo visualizar e deslumbrar a beleza que existe à nossa volta.

É possível uma relação indireta e de auxílio da sananga em algumas doenças psicossomáticas, já que os olhos são nossas janelas para a percepção deste mundo. Enxergar o nosso inimigo com os olhos colabora em nossa luta diária. Assim, esta medicina natural auxilia na percepção do que ocorre em nossa volta, trazendo harmonia e consequente realização espiritual, emocional e física.

A tradição do uso da sananga pelos índios kaxinawás é de pingar uma ou duas gotas em cada olho antes de irem para a caça. Eles acreditam que a substância aguça a percepção facilitando os movimentos sutis da densa floresta, conseguindo assim, distinguir a sua caça. Além de ressaltar texturas visuais, profundidade, cores o que, dizem os índios, auxilia o instinto caçador em sua busca visual da presa dentro da floresta.

O colírio da sananga é obtido por meio da extração de um sumo de planta brejeira em forma de arbusto, chamada Tabernaemontana Sananho. Um dos princípios ativos encontrados é a Ibogaína. Para preparar o colírio são batidas as raízes do arbusto com água limpa e potável, que resultam na extração do princípio ativo da planta.

A Ibogaína provoca uma experiência psicoativa o que pode levar algumas pessoas a transes e/ou rápidas visões, chamadas de mirações por algumas tradições ayahuasqueiras. Após a aplicação, ocorre uma ardência que dura no máximo três minutos, dependendo do estado clínico do paciente e a frequência com que o indivíduo faz uso do colírio. A experiência da sananga é relatada como um momento muito especial. Após a ardência surge uma sensação de completude. É como se o indivíduo estivesse totalmente inserido em um momento atemporal, onde nada mais importa.

Algumas tribos das etnias nawas, utilizam-se da sananga para retirar a chamada panea. Panea é representada por uma forma de energia negativa acumulada que carregamos, normalmente associada ao suco gástrico do estômago, que levam ao acúmulo de todo o tipo de bactérias e doenças. Este acúmulo é originado pela ingestão de carne (que leva à putrefação no aparelho digestório e excretor), de medicamentos e de substâncias tóxicas dos alimentos que não são naturais como os da floresta. A panea pode destruir nossa resistência e saúde.

Espiritualmente e energeticamente, a sananga ajuda a limpar o canal ocular e contribui para a fluidez da percepção no chakra ajna (terceiro olho, ou visão interior). Ou seja, aumenta a percepção e visão espiritual e sensitiva. Em pessoas com sensibilidade mediúnica desenvolvida há a comprovação de expansão do campo áureo. A Ibogaína auxilia ainda no tratamento de dores crônicas e é conhecido como um forte estimulante afrodisíaco, além de facilitar processos meditativos e de introspecção.

Não se recomenda a prática do uso da sananga fora da floresta, local onde a aplicação é realizada de forma adequada durante um trabalho e ambiente apropriado voltado à evolução espiritual e, principalmente, com a orientação de um xamã.

Deve-se considerar que o organismo indígena é mais delicado e possui uma pureza de alimentação, ambiente e qualidade de vida não encontrada no ambiente dos não índios, sendo aconselhada a retirada da panea por meio de sananga pelo povo indígena.

Estudo científicos demonstram possível eficiência na aplicação da sananga, em especial nas doenças bacterianas existentes no globo ocular. Sua aplicação auxilia no tratamento ou prevenção de conjuntivite, terçol, irritações nos olhos, catarata, miopia, hipermetropia, astigmatismo, ambliopia, olho seco, fotofobia, glaucoma, catarata, ceratocone, dores de cabeça, catarro derivante de sinusite e renite. “Nossa visão fica mais precisa, clara e nítida após a aplicação”, afirma o pajé. Apesar de sua contribuição, a sananga não promove a cura de problema físicos existente nos olhos. Importante: é contraindicado seu uso após cirurgias oculares ou em caso de ferimentos ocorridos.


Fontes:

BRAMATTI, J.P.C. (2016) Percepção, alucinação e perspectivas: um jogo de luzes e sombras. Disponível em http://bdm.unb.br/handle/10483/10976

LOPES, B.P.C.S (2017) Estudo etnobotânico de plantas medicinais na Terra Indígena Kaxinawá de Nova Olinda, município de Feijó, Acre Disponível em http://hdl.handle.net/11449/150997>

Blog Xamanismo Universal – Disponível em http://xamanismouniversal.blogspot.com.br/2011/09/sananga-uma-nova-cura-para-os-olhos.html

Blog Alquimia das Árvores – Disponível em http://alquimiadasarvores.blogspot.com.br/

 

 

Por que a Amazônia é importante?

© WWF-Brasil/Adriano Gambarini

O que liga a floresta Amazônica, o aquecimento mundial e você?

Há muito tempo a floresta Amazônica é reconhecida como um repositório de serviços ecológicos, não só para os povos indígenas e as comunidades locais, mas também para o restante do mundo. Além disso, de todas as florestas tropicais do mundo, a Amazônia é a única que ainda está conservada, em termos de tamanho e diversidade.

No entanto, à medida que as florestas são queimadas ou retiradas e o processo de aquecimento global é intensificado, o desmatamento da Amazônia gradualmente desmonta os frágeis processos ecológicos que levaram anos para serem construídos e refinados.Ironicamente, enquanto as florestas tropicais úmidas diminuem continuamente, o trabalho científico realizado nas últimas duas décadas jogou um pouco de luz sobre os vínculos essenciais que existem entre a saúde das florestas tropicais e o resto do mundo.

Filtragem e reprocessamento da produção mundial de gás carbônico

As árvores desempenham um papel-chave na redução dos níveis de poluição. Para entendermos melhor como isso funciona, vamos tomar como exemplo o gás carbônico (CO2), cujas emissões provêm tanto de fontes naturais como da atividade humana. Nos últimos 150 anos, os seres humanos têm lançado quantidades enormes de CO2 no ar por meio da queima de combustíveis fósseis, carvão, petróleo e gás natural – e esta é uma das principais causas das mudanças climáticas no planeta.

Entra o gás carbônico, sai o oxigênio

Em condições naturais, as plantas retiram o CO2 da atmosfera e o absorvem para fazer a fotossíntese, um processo de produção de energia. Com a fotossíntese, as plantas obtêm:• Oxigênio, que é liberado novamente no ar, e• Carbono, que é armazenado para permitir o crescimento das plantas.Assim, sem as florestas tropicais úmidas e todas as suas plantas fazendo fotossíntese durante o todo o dia, o efeito estufa provavelmente seria mais pronunciado, e as mudanças climáticas podem vir a ser ainda mais graves.

Floresta Amazônica e o gás carbônico

O que as florestas retiram do ar elas podem devolver. Quando as florestas são queimadas, a matéria de carbono da árvore é liberada no ar, na forma de CO2, um gás que polui o ar e que já está presente numa quantidade excessiva na atmosfera.

Onde antes havia floresta tropical úmida e savanas, agora surgem pastagens para a criação de gado. Os pastos estão cheios de gado e também de cupins, e as atividades metabólicas desses dois animais também liberam CO2, embora sua contribuição para a poluição atmosférica ainda gere muita polêmica.

As culturas agrícolas que substituem as florestas absorvem apenas uma pequena fração do CO2 consumido pela floresta tropical úmida. Então, sem florestas, o CO2 deixa de ser transformado pela fotossíntese. Juntamente com a poluição industrial, o desmatamento descontrolado na América do Sul e em outros lugares aumentou significativamente a quantidade de CO2 na atmosfera.

A floresta amazônica pode curar você

Há uma ligação entre os remédios guardados nos armários de sua casa e a vida silvestre da Amazônia: plantas e animais servem como base para a fabricação de medicamentos. Durante milênios, os seres humanos utilizaram insetos, plantas e outros organismos da região para várias finalidades, entre elas a agricultura, vestimentas e, claro, a cura para doenças.

Povos indígenas e outros grupos que vivem na floresta amazônica aperfeiçoaram o uso de compostos químicos encontrados em plantas e animais. O conhecimento sobre o uso dessas plantas geralmente fica nas mãos de um curandeiro, que por sua vez repassa a tradição para um aprendiz. Esse processo se mantém ao longo de séculos e compõe uma parte integral da identidade desses povos. No entanto, com o rápido desaparecimento das florestas úmidas tropicais, a continuidade desse conhecimento para o benefício das futuras gerações encontra-se ameaçada.

© WWF-Brasil/Adriano Gambarini

Menos de 0,5% das espécies amazônicas foram detalhadamente estudadas quanto ao seu potencial medicinal

O potencial inexplorado das plantas amazônicas

Os cientistas acreditam que menos de 0,5% das espécies da flora foram detalhadamente estudadas quanto ao seu potencial medicinal. Ao mesmo tempo em que o bioma Amazônia está encolhendo lentamente em tamanho, a riqueza da vida silvestre de suas florestas também se reduz, bem como uso potencial das plantas e animais que ainda não foram descobertos.


Fatos e curiosidades:

A importância da Floresta Amazônica para o clima local e o clima do planeta

As florestas tropicais e as florestas com árvores mais espaçadas, como o cerrado, por exemplo, trocam grandes quantidades de água e energia com a atmosfera e são consideradas importantes para o controle do clima local e regional.
A água liberada na atmosfera pelas plantas por meio da evapotranspiração e a água que os rios despejam nos oceanos influenciam o clima do planeta e a circulação das correntes oceânicas. Isso funciona como um mecanismo de retroalimentação: de um lado, as florestas garantem a manutenção do clima regional, de outro, o clima garante a sobrevivência das florestas.

Texto transcrito na sua integralidade do site wwf: https://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/areas_prioritarias/amazonia1/bioma_amazonia/porque_amazonia_e_importante/

Os shananawás ou shanenawás

O nome Shanenawá, etimologicamente, é composto pelo termo shane (espécie exótica de pássaro, de cor azul cintilante com aproximadamente 30 centímtros de altura) e pelo sufixo nawá (povo). Os denominados “povo pássaro” constituem juntamente com os kampas, kulinas e kaxinawás a população indígena que habita a região do rio Envira – que corta o estado do Acre no município de Feijó, localizado a cerca de 700 quilômetros ao norte da capital Rio Branco.

Atualmente, o povo shanenawá subdivide-se em quatro comunidades localizadas no Acre: Aldeia Morada Nova (2 km próximo da cidade de Feijó); Cardoso, localizada em um igarapé de mesmo nome (a 20 km ao norte de Feijó); Nova Vida (a cerca de 10 km ao sul da cidade), e a aldeia Paredão (a mais distante de Feijó, a 30 km ou aproximadamente 45 a 60 minutos, descendo o rio Envira). Sobre sua origem os shanenawás dizem ser descendentes de um povo que no início do século habitava a região do rio Gregório.

Os shanenawás sofreram consequências das invasões que ficaram conhecidas como o período das “correrias”, iniciado em 1913 com a chegada dos nordestinos em busca da seringa. Nesse período, o governo federal brasileiro promoveu um modelo de ocupação territorial do Acre, incentivando a migração de pessoas, a maioria vinda da região Nordeste, para a Floresta Amazônica, na busca do látex das serigueiras. Para os povos originários o período se caracterizou pela falta de um lugar que lhes garantisse segurança em seu habitat tradicional. Assim, nos primeiros contatos com os não índios, as populações indígenas, eram obrigadas a trabalhar na coleta de borracha. Porém, ao término dos serviços, os índios eram expulsos da área que habitavam. As consequências disso levava essas nações  a passarem fome e adoecerem, levando grande parte dos expulsos de seu território à morte.

Nessa época, por não terem espaço garantido para sua sobrevivência, os shanenawás, passaram a reivindicar às autoridades locais e federais um território que pudesse assumir como deles, já que haviam sido retirados de sua região original. Esse espaço foi “concedido” aos shanenawás por volta de 1926, por meio de uma “doação” feita por um seringueiro da região.

O primeiro shanenawá a chegar ao novo habitat foi Inácio Brandão, conforme relatam hoje os representantes desse grupo. Segundo estimativa dos próprios indígenas, atualmente o núcleo familiar Brandão é constituído por mais ou menos 310 pessoas, entre adultos e crianças, espalhadas de modo heterogêneo pelas quatro aldeias ao longo do rio Envira. As habitações dos shanenawás são semelhantes às das outras etnias da região: as casas são do tipo palafitas, feitas de paxiúba e cobertas com folhas de coqueiro (jacir). O espaço divide-se em áreas  abertas que funcionam como sala de visitas e cozinha. As áreas fechadas são os locais reservados para dormir.

Esse povo subdivide-se em clãs: waninawa (povo da pupunha), varinawa (povo do sol), kamanawa (povo da onça), satanawa (povo da ariranha) e maninawa (povo do céu). Os filhos são membros do clã da mãe e como regra, em geral, só podem casar com indivíduos pertencentes ao mesmo clã. Mas isso, às vezes, não acontece, já que há alguns matrimônios interétnicos de índios com não-índios.  Segundo o cacique Busã, as famílias são monogâmicas, embora sejam permitido que os caciques da etnia possam ter até três esposas dentro de casa, podendo ter filhos com todas. Não é uma regra a ser seguida, mas uma possibilidade ao “chefe”. O índio que opta por ter duas ou três mulheres tem a obrigação de observar a igualdade nas relações. Isso o obriga a se deitar com todas as mulheres na mesma noite, caso mantivesse relações sexuais com alguma. Pela manhã, ele tinha que levantar cedo para caçar e sustentar a família. O cacique Busã, consciente dessa responsabilidade afirma que ter mais mulheres é sinônimo de mais famílias, mais responsabilidade. Por esse motivo ele afirma que não pretende deixar a monogamia.

Os shanenawás possuem uma organização centralizada na figura do chefe, no caso o cacique, cujo cargo é hereditário. À liderança cabe o dever de se dedicar inteiramente aos interesses da comunidade representando-a em contatos com autoridades públicas dos não-índios. O chefe tem poder de decisão, embora atualmente as decisões mais importantes sejam tomadas de forma coletiva em reuniões com outros importantes membros do povo.

A organização política do povo shanenawá considera o cacique a autoridade máxima, cabendo a ele resolver problemas internos e servir como representante do grupo em intermediações com a sociedade geral brasileira como, por exemplo, em reuniões da Organização dos Povos Indígenas do Rio Envira (Opire), em que se discutem problemas referentes à saúde, educação e comercialização de seus produtos.

O meio de vida econômico desse povo é de subsistência, centrando-se em coleta, pesca e caça. A primeira se restringe a materiais essenciais, como a paxiúba e a palha, usadas nas construções das casas. Os shanenawás igualmente coletam envira e tabocas para a confecção de cestos e artesanatos, tais como arcos e flechas, que eventualmente comercializam. A caça, por sua vez, está praticamente extinta. Já a pesca, eles exercem no formato de sua cultura. Pescam no período de águas a nível baixo do rio Envira e igarapés Diabinho e Cardoso, que desembocam próximos às comunidades.

No processo de desenvolvimento da economia da borracha, os índios foram alocados como mão-de-obra para o fornecimento de carne de caça e outros produtos da alimentação. Posteriormente foram integrados à lida do seringal e à própria extração da borracha. Além destas atividades, os shanenawás também participaram do “amansamento” dos índios “brabos” – como eram chamados os índios não contatados, que não querem ter convívio com não índios – da região do alto rio Envira.

Os modos de vida desse povo passaram por uma reestruturação: a moradia foi transferida mais para o interior da floresta, onde há seringueiras. Houve uma maior fartura de caça, mas por outro lado, deixaram de lado o acesso à grande quantidade de peixes dos rios e as duas colheitas agrícolas que faziam durante o ano. O declínio das atividades extrativistas abriu espaço para as atividades pecuárias na região, o que aumentou consideravelmente os conflitos pela posse de terra.

Os shanenawás vivem na margem do rio Envira. Antigamente moravam em cupinxauas (espécie de taba, habitação construída de palha), na qual moravam todos os membros de um clã. Hoje vivem em moradias sobre as águas, palafitas feitas de madeira serrada e cobertas com palha de envira ou de alumínio. Plantam roças próximas à aldeia com macaxeira, banana, milho e amendoim. Também plantam em escala menor batata-doce, abóbora, inhame, cará, cana-de-açúcar, mamão e melancia. Coletam manga, caju, ingá, e açaí com muita abundância, todos frutos originários da região. Compram alguns produtos em Feijó, principalmente carne, na época das cheias do rio Envira e seus Igarapés (quando não se pode pescar para garantir a reprodução dos peixes), e criam pequenos animais.

No artesanato típico deste povo, os homens fabricam arco e flecha e as mulheres fazem colares, chapéus, saias, pulseiras e cestos. Também fabricam vasos cerâmicos. A Associação Shananawá da Aldeia Morada Nova (ASAMN) facilita a venda destes produtos na cidade de Feijó.

Xamanismo, cosmologia e rituais

Os shanenawás creem nos espíritos bons e maus da floresta, chamados jusin. O principal jusin tsaka tem a forma de um animal monstro, que anda à noite, destruindo e queimando todas as coisas que encontra em seu caminho. Assim como outras etnias que utilizam a ayahuaska da Amazônia, os shanenawás também consagram os seus ritos com a bebida da floresta, que utilizam para se comunicar com os ancestrais, em busca de ter visões que ajudem na resolução de seus problemas. Em sua língua, chamam a ayahuaska de umi. Esse povo conta com a presença do pajé e contam com um vasto jardim de plantas medicinais na Aldeia Paredão. Aplicam no braço também o veneno do sapo verde phyllomedusa bicolor, o kambo, como planta medicinal e espiritual.

Curiosamente, essa etnia adota aspectos e parte da cultura católica. Praticam rituais que são mais brincadeiras, especialmente na estação seca com mariri que é uma dança, o pau-de-sebo, o tiro de arco e flecha como competição entre as seu povo.

Os hunikuins e suas regiões na Amazônia

Os hunikuins são um povo da língua pano, com uma população estimada em 7.900 índios, que habitam a Floresta Amazônica de ambos as lados da fronteira entre a leste peruano e o noroeste brasileiro, no estado do Acre. Atualmente são o grupo indígena mais numeroso da floresta, representando 43% da população (excetuando os chamados “índios isolados”). As aldeias hunikuins do Peru são localizadas nas margens dos rios Purus e Curanja, enquanto as aldeias do lado brasileiro são espalhadas ao longo de vários rios importantes e seus afluentes (Tarauca, Jordão, Breu, Murú, Envira, Humaitá e Purus). Os hunikuins vivem da caça e pesca, além de plantarem e colherem exatamente o que consomem. Assim, nesta cultura típica não há nenhuma comercialização dos produtos voltados a sua alimentação. A troca ou venda ocorre, porém, com os produtos culturais, não voltados à subsistência, como os artesanatos –  especialmente tecidos com desenho, redes, peças de argila, pulseiras, cordões e outros adorno de miçangas confeccionados pelas mulheres das tribos. Os traços e desenhos dos artesanatos hunikuin possuem características próprias, fortes e marcantes.

The hunikuin are a people of the pano language, with a estimated population of 7,900 indigenous, inhabiting the Amazonic Forest in both sides of the border between east of Peru and northwest of Brazil, in the state of Acre. Currently they are the most numerous indigenous  group of the forest, representing 43% of the population (excepting the so called “isolated indians”). The hunikuin villages in Peru are located at the margin of Purus and Curanja rivers, while the brazilian side villages are spread over many important rivers and their afluents (Tarauca, Jordão, Breu, Murú, Envira, Humaitá e Purus). The hunikuin live from the hunting and fishing, also planting and harvesting exactly what they consume. In this sense, in this tipical culture there is none commercialization of products from their food. The exchange or selling occurs, however, with the cultural products, which are not aimed at the subsistance, like handicraft, specially painted fabrics, nets, clay pieces, bracelets, necklaces and other beads adornments made by the village women. The hunikuin craftwork traces and designs have it’s own powerful and marking characteristics.

Segundo registros, os hunikuins brasileiros habitavam inicialmente a área do Alto Juruá e depois passaram a viver no entorno dos rios Muru, Humaitá e concentraram-se principalmente no Iboiçu – todos afluentes do rio Envira, que por sua vez, é um afluente do Juruá. Assim, acredita-se que esse seja o habitat original dos hunikuins.

According to records, the brazilian hunikuin initially inhabitated the High Juruá area and afterwards started to live around the Muru, Humaitá and specially the Iboiçu rivers, where they then concetrated. These rivers are afluents of Envira river which is, in its turn, a Juruá afluent. So, it’s believed that this is the original habitat of the hunikuin.

Com a colonização brasileira, muitos anos depois que esses povos originários viviam na região amazônica, chegaram os seringueiros. Os exploradores da borracha impuseram  transformações na ecologia do território, introduzindo as armas de fogo e levando a etnia a se distribuir pelo Brasil. Do ponto de vista de quem está no Acre rumando para o Peru, os hunikuins ocupam a margem direita, ficando a margem esquerda ocupada pelos Kulinas. No século XVIII, os colonizadores organizaram excursões à procura de escravos na região, mas não há registro de que as etnias tenham sido escravizadas. Acredita-se, porém, que nos primeiros contatos dos não índios, os hunikuins tenham tido numerosas baixas, por conta do contágio de doenças trazidas pelos colonizadores. De qualquer maneira, é fato conhecido por historiadores que esse tipo de expedições dirigidas à captura de mão de obra escrava fez com que muitos índios tenham sido escravizados e maltratados.

With the brazilian collonization, many years after the original folk lived in the amazon regiion, then came the seringueiros (rubber tappers). The rubber explorers imposed transformations in the territory ecology, introducing fire weapons and leading the etny to distribute themselves throughout the Brazil. In the perspective of someone who is in Acre going to Peru, the hunikuin occupied the right side of the way, while the left side was ocupied by the Kulina. In the 18th century, the colonizers organized excursions to find slaves in the region, but there’s no records that these ethnicities have been enslaved. It’s believed, however, that in the first contacts with non-indigenous, the hunikuin have had numerous casualities because of contagious deseases brought by the colonizers. Anyway, it’s a known fact by historians that this kind of expedition directed to the capture of slave labor force leaded to the subdual and mistreatment of many indians. 

No final do século XIX, por volta de 1890, inicia-se uma onda de invasões de caucheiros peruanos (caucheiros são profissionais que extraem látex de uma árvore popularmente conhecida como caucho, da família da seringueira). Eles vinham em busca dos cauchos, mas diferentemente da seringueira, a árvore precisa ser arrancada para se extrair o látex. Portanto, os peruanos cortavam inúmeras árvores, o que levou à degradação e esgotamento da região onde habitavam os hanukuins. A exploração caucheira durou cerca de 20 anos e causou grande destruição. Quando chegaram os seringueiros brasileiros, que extraiam a borracha da Hevea brasiliensis por meio de cortes e sulcos feitos no corpo da árvore, sem a necessidade de derrubada do exemplar. Eles permaneceram por um período longo de tempo, apesar dos altos e baixos do mercado de borracha no início do século XX.

By the end of the 19th century, around 1890, it starts a wave of invasions of Peruvian cauceros (caucheiros or cauceros are professionals that extracts latex from a tree popular known as caucho, from the rubber tree [seringueira] family). They came searching for caucho, but unlike the rubber tree, this tree must be ripped out to extract the latex. Therefore, the peruvians cutted countless trees, leading to a degradation and depletion of the region where the hunikuin lived.  The caucero exploration lasted for 20 years and made a great destruction. Only then came the brazilian serigueiros, that extracts rubber from the Hevea brasiliensis by making cuts and grooves in the tree trunk, without the necessity to chop it down. They remained in the area for a long period of time, despite the high and low of the rubber market in the beginning of the 20th century.

A presença dos caucheiros foi muito violenta na região porque derrubar uma árvore é inadmissível para os povos indígenas. Nesse violento contato entre caucheiros e grupos indígenas, esses tiveram novamente grandes perdas, causadas pelos confrontos e doenças trazidas por aqueles peruanos.

The cauceros presence was very violent in the region becausetaking down a tree is inadmissible for the indigenous people. In this violent contact between cauceros and indigenous groups, these had again great losses caused by confrontation and deaseases brought by that peruvians.

Esses foram apenas os primeiros reveses desse povo originário. Por volta de 1910, o governo brasileiro começa a propor a ocupação do estado do Acre, promovendo uma campanha focada na atração dos moradores do Nordeste do país para a região do Norte, sob a promissora prosperidade do Ciclo da Borracha, cujo auge ocorreu em 1912. O povo nordestino viu a proposta como uma oportunidade de fugir das secas constantes de sua região e começou a migrar para o Norte.

These are only the first setbacks of the original people. Around the year of 1910, the brazilian government begins  to porpose the occupation of Acre state, promoting a campaign focused in the atraction of Northeast population of the coutry to the North region, under the promising prosperity of the Rubber Cicle, with its peak at 1912. The northeast people saw the proposal as an opportunity to escape the constant dryness of their region e started to migrate North.

O estado do Amazonas, em especial as regiões ribeirinhas, começou a receber esses migrantes. Em 1913, com a ocupação do Acre chegaram os primeiros grupos de nordestinos, a maioria formada por cearenses. Até então, a Floresta Amazônica da porção acreana se mantinha quase intacta. Com a chegada de mais de 100 mil nordestinos na região do Juruá (40 mil) e Purus (60 mil) trazidos pelo programa de integração do Acre com o estado brasileiro, começou a expulsar os caucheiros peruanos, um dos objetivos do governo federal. Porém, toda essa movimentação não ocorreu de forma pacífica. Os mateiros que estavam na região, não tinham somente a função de abrir trilhas e passagens para a seringa, mas eram contratados para limpar a área dos “índios brabos”.

The state of Amazonas, specially the riverside regions, started to receive those migrants. In 1913, with the occupation of Acre, there came the first northeastern groups, they’re majority composed by Ceará people. Untill then, the Acre portion of the Rain Forest was almost intact. With the arrival of more than 100 thousand northeasterns around the Juruá (40,000) and Purus (60,000) rivers as part of the program of the acrean integration with Brazil’s State, the expulsion of peruvian cauceros also took place, what was one of the federal gorvernment objectives. However, all this movimentation did not occur in a pacific way. The mateiros (bushmen) did not only have the function to open trails and passages to the rubber sites, but they were also contracted to clear the area of “mad indians”.

A reação  dos índios hunikuin na ocasião, já muito fragilizados após o contato om os caucheiros, não foi de confronto, mas de isolamento. Ao longo dos anos, diversos hunikuins tomaram a decisão de fazer contato mais próximo com os não índios, apesar dessa decisão ter sido – e ainda ser – muito questionada pelas lideranças indígenas da etnia. Hoje, eles estão distribuídos em 12 pontos da Amazônia brasileira, tendo uma população estimada em 7.900 hunikuins no território brasileiro e 2.550 do lado peruano.

The hunikuin reaction in the ocasion, already much fragilized from the previous shocks, was not of confrontation, but of isolation. Along the years, many hunikuin have taken the decision to make closer contact with the non-indigenous, altought the decision have been – and still is – much questioned by the indiginous leadership of the ethnicity. Today, they are distributed in 12 sites of the brazilian Amazon, with an estimated population of 7,900 hunikuin on this side, and 2,550 in the peruvian territory.

Curiosidades

Algumas histórias dessa etnia relatam a perspectiva dos hunikuin sobre o contato dos não-índios. Em 1952 uma expedição de biólogos e antropólogos alemães chegou no lado peruano quase fronteira com o Brasil, numa cidade da floresta chamada Curanja, para estudar as plantas nativas e fazer possíveis contatos com os índios. Os livros dessa expedição estão hoje no Museu das Expedições, na Alemanha, e neles se encontram as narrativas dos visitantes. Segundo esses relatos, os alemães encontraram oito aldeias de hunikuins, onde habitavam cerca de 120 pessoas.

Some stories of this ethnicity relate the hunikuin perspective about the contact with the non-indigenous. In 1952, a expedition of german biologists and anthropologists arrived the peruvian side, almost in the frontier with Brazil, in a forest ciry called Curanja to study native plants and do possible contacts with the indians. The books of this expedition are, today, in the Expedition Museum, in Germanny, and in them we find the narratives of the visitors. According to those reports, the germans have found  eight hunikuin villages, where lived about 120 people.

Alguns dias após a chegada, o grupo começou as filmagens de registros dos contatos físicos mais próximos entre os índios e os alemães, deixando o povo da terra intrigado com aquelas máquinas fotográficas, tripés e outros equipamentos. Em consequência àquela visita, uma onda de sarampo instalou-se entre a população indígena das aldeias, e culminou na morte de 80% dos adultos. Os hunikuins consideraram aquelas máquinas estranha e as filmagens as causas da tragédia.

A few days after arriving, the group began to film and register closer phisical contact between indigenous and german, letting the people of the land puzzled with those photographic machines,  tripods and other equipments. In consequence of that visit,  
a wave of measles was installed in the villages population, culminating in the death of 80%  of the adult. The hunikuin considered those strage machines and the filming as causes of the tragedy.

Em sua compreensão, aquela imagem reduzida das pessoas filmadas, que aparece por dentro da lente, também reduziam os seus “yuxin yuda” – uma espécie de anjo da guarda – e, com isso, os índios morriam. Os hunikuins, sob forma de vingança, aniquilaram quase todos os pesquisadores. Os que conseguiram fugir desse trágico encontro voltaram para a cidade de Curanja, enquanto os índios sobreviventes ao surto fugiram para o lado brasileiro, em busca de abrigo com seus parentes, já instalados às margens rio Envira e do Jordão.

In their understanding, that reduced image of filmed people, which appears inside the lens, also reduced their “yuxin yuda” – a kind of guardian angel – and, with that, the indigenous would die.  The hunikuin, as a form of vengeance, annihilated almost all the researchers. Those who were able to flee from this tragic encounter headed back to the Curanja city, while the surviving indigenous people escaped to the brazilian side, looking for shelter with their relatives, already installed at the margins of Envira and Jordão river.

Hoje, os hunikuins buscam o resgate de suas tradições, investindo na escrita de sua história e, assim, perpetuando a sua cultura para gerações futuras.

Presently, the Hunikuin aim for rescuing their traditions, investing in the writing of their history and, so, perpetuating their culture for future generations.

Xamanismo

Os Hunikuin atualmente realizam um papel importante no xamanismo brasileiro e mundial. Ao mesmo tempo que permanecem um povo que valoriza suas raízes, principalmente com relação aos seus saberes e práticas espirituais e medicinais, sua cultura também promove grande dinamismo no contato com o resto do mundo. Os pajés (xamãs), txanas (cantores), artesãs e artesões hunikuin viajam o Brasil e outros países no propósito de união, promovendo a expansão da consciência humana enquanto guardiões das medicinas da floresta. Sua missão de união junta com sensibilidade índios e não-índios, fortalecendo todos na intenção de estabelecer harmonia entre os seres humanos e a mãe natureza.

The Hunikuin presently play a important part in the brazilian and global shamanism. At the same time that they remain a people that values their own roots, above all regarding their spitirual and medicinal knowledge and practices, their culture also promotes a great dynamic contact with the rest of the world. Hunikuin pajés (shamans), txanas  (singers), women and men artisans travel Brazil and other countries in the porpose of union, promoting the expansion of human consciousness as guardians of the forest medicines. Their mission of union joins with tenderness indigenous and non-indigenous, strengthening all in the intention of establishing harmony between human beings and mother nature.

O uso da ayahuasca é considerado privilégio do xamã em muitos grupos amazônicos. É uma consagração çancestral e coletiva entre os hunikuins, praticada por todos os homens adultos e adolescentes que desejam ver “o mundo do cipó”. O mukaya seria aquele que não precisa de nenhuma substância, nenhuma ajuda exterior, para se comunicar com o lado invisível da realidade. Mas todos os homens adultos são um pouco xamãs na medida em que aprendem a controlar suas visões e interações com o mundo dos yuxin yuda.

Ayahuasca use is considered a privilegde of the shaman in many amazonian groups. It’s a ancestral and collective consagration between hunikuin, practiced by all adult and young men that wish to see the “vine world”. The mukaya would be the one who doesn’t need any substance nor external help to communicate with the invisible side of reality. However, all grown up men are part shaman as they learn to control their visions and interactions with the world of the yuxin yuda.

Dois fatos facilmente observáveis que apontam nessa direção, é o uso freqüente da ayhauasca aproximadamente duas, três, quatro ou mais vezes por mês, e as longas caminhadas solitárias de alguns velhos, sem o objetivo de caçar, mas sim de procurar ervas medicinais que possam ser úteis em seus ritos de cura ou de pajelança. Essas duas atividades mostram uma procura ativa de estabelecer um contato intenso com a yuxindade. Yuxindade é uma categoria que sintetiza bem a cosmovisão xamânica dos hunikuins, com uma visão que considera o espiritual (yuxin) como algo sobrenatural e sobre-humano, localizado além da natureza e do humano. O yuxin é o espiritual ou a força vital permeia todo o fenômeno vivo na terra, nas águas e nos céus.

Two facts easily seen that point in this direction is the frequent use of ayahuasca approximatelytwo, three, four or more times in a month, and the long and lonely walks of some elder, not with the objective to hunt, but to find medicinal herbs that can be useful in their healing or shamaninc rites. These two activities show a active demand in establishing a intense contact with the yuxinity. Yuxinity is a category that fairly synthesizes the shamanic hunikuin cosmovision, as a vision that considers the spitirual (yuxin) as something supernatural and super-human, located beyond nature and human. The yuxin is the spiritual or life force that permeates all living phenomenon in earth, waters and heavens.

A atividade do xamã que procura conhecer e relacionar-se com os yuxins é indispensável para o bem-estar da comunidade. A causa última de todo mal-estar, doença ou crise tem suas raízes neste lado yuxin da realidade, em que o xamã, como mediador entre os dois mundos (espiritual e material), é necessário. Os lugares com maior concentração de yuxin são os barrancos (onde moram os mawam yuxibu), o lago e as árvores.

The activities of the shaman that is looking for knowing and relating oneself with the yuxin is indispensable to the community well-being. The ultimate cause of every malaise, desease or risis has its roots in the yuxin side of reality, where the shaman, as a mediator between the two worlds (spiritual and material), is necessary. The places with greatest yuxin concentration are the ravines (where the mawam yuxibu  live), the lakes and the trees.

A cidade de Jordão

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a pequena cidade de Jordão tem uma população estimada de 7.858 habitantes (2017), e está localizada num local que anteriormente era denominado Seringal Duas Nações, de propriedade de Levi Saveda, e que pertencia ao município de Tarauacá. Em 1956 passou a ser denominada Vila Jordão. Em 29 de março de 1992, seu povo se reuniu e resolveu transformar a Vila Jordão em município. Houve um plebiscito que por maioria absoluta de votos pedia a elevação à categoria de município de Jordão.

According to the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE), the small town of Jordão haz a estimated population of 7,858 habitants (2017), and it’s located in a place that was previously called as Seringal Duas Nações (Two Nations Rubber Forest), property of Levi Saveda and part of Tarauacá county. In 1956, it started to be called as Vila Jordão (Jordão Village). In March 29, 1992, its people gathered and decided to transform the Jordão Village in a town. There was a plebiscite in which the majority of votes asked for the elevation to the category of Jordão to a town.

Hoje, a principal fonte de renda da cidade, é o extrativismo do látex. Os nascidos nesta cidade, chamam-se Jordãoenses, e o município se estende por 5.357,3 Km2. Contava em seu último censo (2010), a população era de 6.577 habitantes por toda esta extensão do território, sendo a sua grande maioria formado por índios. Situado a 326 metros de altitude, de Jordão tem as seguintes coordenadas geográficas: Latitude: 9° 26′ 4” Sul, Longitude: 71° 53′ 4” Oeste. Extrativista Alto Juruá, e a Reserva Extrativista do Alto Tarauacá.

Those who are born here are called jordãoenses, and the county extension is of 5,357.3 Km². In the last census (2010) the population was of 6,577 habitants in the territory, its majority formed by indigenous people. There we find the High Juruá Extrativist and the High Taraucá Extrativist Reserv. Sited 326 meters above sea level, these are Jordão geographical coordinates :  9° 26′ 4” South; 71° 53′ 4” West.

O Município conta com 37 instituições escolares e 1.347 alunos devidamente matriculados, uma creche municipal, e um posto de saúde municipal, com médico e auxiliares de enfermagem.

The town has 37 school institutions and 1,347 registered students, a municipal nursery and a municipal Health center, with physicians and nursing assistants.

A extração do látex, é a principal fonte de renda de seu povo, junto com a agricultura. A prefeitura mantém frentes de trabalho para manter o povo com pequenos rendimentos para subsistência de suas famílias. As vias de acesso são aéreas e fluvias, sendo que na época das cheias dos rios o trajeto de Tarauacá a Jordão chega a seis dias de navegação.

Latex extraction is the main source of income of its people, followed by agriculture. The town hall keeps work fronts to mantain the people with minimal yield to the subsistance of the families. The access ways are through the air and the rivers, and in the flood season the traveling time from Taraucá to Jordão is about 6 days by water.

A cidade de Jordão é banhada pelo rio com o mesmo nome, e no território habitam 32 Aldeias de índios, todas hunikuins.

Jordão city is bathed by the river with the same name and in the territory live 32 indigenous villages, all Hunikuin.

 

Nota: Mapa desenhado pelo movimento Survival

A Survival é o movimento global pelos direitos dos povos indígenas. Ela dedica-se à causa e defesa desses povos, proteger suas terras e auxiliá-los a determinar seus próprios futuros. Eles focam seu trabalho na Floresta Amazônica, que é hoje a única região na face da terra onde sabe-se que há de fato população indígena com pouco ou sem nenhum contato com o “mundo modernizado”. A cidade de Jordão, está localizado exatamente no coração da área de pouco contato, como mostra o mapa desenhado pelo Survival. A região verde escura é onde se concentra população de índios Isolados da Amazônia. Veja abaixo:

The Survival is a global movement for the indigenous people rights. It’s dedicated to the cause and defense of these people lives, protecting their lands and aiding them to establish their own future, as the institution declares in it’s website. They focus their work on the Amazon rainforest,, that is, today, the only region on Earth where it’s known that there are indigenous with none or little contact with the “modern world”. The city of Jordão is located exacly in the hearth of this low-contact area, as the map of Survival shows. The dark green part is where these isolated amazonian folk are concetrated. See bellow: